sábado, 10 de outubro de 2009

Os assassinos do asfalto

OS ASSASSINOS DO ASFALTO







A constância dos eventos violentos, ao mesmo tempo, que nos causa indignação, fomenta uma passividade doentia, que nos leva , irremediavelmente, a banalizar o crime e aceitá-lo, como se fosse algo absolutamente normal em nossos dias.

Há poucos dias li uma entrevista do Presidente do Sindicato Interestadual dos Caminhoneiros Autônomos do Brasil, Osmar Gonçalves de Oliveira, na qual ,desabafava e nos revelava a situação desumana e de escravidão a que se sujeita a maioria dos caminhoneiros do Brasil. A situação é alarmante, estarrecedora e deveras preocupante.No ano passado ficou comprovado estatiscamente que dos 115.000 acidentes registrados na Rodovias Federais, 57.000 envolveram caminhões/carretas, sendo que a esmagadora maioria foi provocada pelos motoristas caminhoneiros, os quais , invariavelmente , são obrigados a tomar rebite, que é uma anfetamina estimulante combinada com conhaque, coca-cola ou café, para cumprir uma jornada desumana imposta pela empresas transportadoras.A droga, também conhecida por prego, é encontrada em alguns postos de gasolina ou borracharias espalhadas pelas estradas.A droga, associada ao conhaque, proporciona alívio e vivacidade ao motorista, impedindo vezes que ele durma no volante,mas também ocasiona alucinações. O proprio presidente entrevistado dissera que, certa vez, na estrada, imaginara deparar-se com um navio que crescia em sua frente,quase provocando um acidente, sendo que algumas vezes deparara-se com caminhões imaginários vindo em sua direção pela contra-mão. Ele próprio confessa que utilizou rebite durante 12 anos e que sofreu alguns acidentes, devido às alucinações, chegando mesmo, a recomendar, que qualquer motorista ao cruzar com um caminhão pisque os faróis de seu veículo, pois o motorista daquele pode está dormindo. Conversei com um conhecido meu, caminhoneiro, que me disse o seguinte:” numa reta, os motorista arribitados normalmente usam uma flanela na testa e ficam muito doidão, mas o sono quando chega é gostoso e chega até a dormir de olhos abertos numa reta”.Imagine! Esta situação é real e precisa de medidas urgentes para evitar acidentes, como o ocorrido entre o ônibus da Aguia Branca e uma Carreta(responsável pelo acidente), no trecho que liga Camacan/Itabuna , no mês passado, com várias vítimas fatais e, também, o que acidentou a equipa de ginastas do Flamengo na via Dutra.O próprio presidente do Sindicato declara: “Um caminhoneiro rebitado é um homicida. A via Dutra está cheia deles--só um louco anda de automóvel naquela estrada à noite....As atuais condições de trabalho dos caminhoneiros os levam a não ter o menor respeito pela vida”. Declarações como essas nos assusta e nos obriga a refletir, de uma forma racional, no sentido de encontrar soluções apropriadas. Não devemos nos calar. A omissão é o pior dos pecados e a vida humana merece respeito.

Como se não bastasse a buraqueira e a má sinalização de nossas estradas,temos também que nos livrarmos dos caminhoneiros. Quem trafega nessas estradas constantemente , já deve ter perdido as vezes que teve de deslocar para o acostamente, no sentido de se livrar de um caminnhão ou carreta na contra-mão. Na verdade, a culpa não é, propriamente, do caminhoneiro, mas do empresário, que explora o pai de família e o obriga a percorrer 3.000 km em 72 horas, sem se importar com as dificuldades e intempéries do percurso. Destarte, o motorista , por seu turno, precisa pagar a prestação do caminhão e colocar comida em casa, mas o perigo é de toda a sociedade e das vidas inocentes que são expostas diariamente nas estradas.

É curial, que medidas urgentes e eficazes sejam tomadas, inclusive existe um projeto no Congresso, no sentido de reduzir a jornada de trabalho dos caminhoneiros, entretanto, torna-se imperioso à adoção de outras medidas, como cursos especais e rigorosos com motoristas de caminhões,sujeição a exame de droga e ,caso positivado, apreensão do caminhão e aplicação de multa à empresa responsável pelo transporte, entre outras medidas preventivas e repressivas.Na verdade, o quadro é estarrecedor e exige medidas urgentes e eficazes, para melhorar a vida do caminhoneiro e evitar a perda de muitas vidas humanas.



Camacan, 17 de junho de 1997.



MARCOS ANTONIO SANTOS BANDEIRA

Nenhum comentário:

Postar um comentário