domingo, 14 de fevereiro de 2010

ITABUNA E ILHÉUS DOS MEUS SONHOS

ITABUNA E ILHÉUS DOS MEUS SONHOS





Encontrava-me sozinho e sentado num banco do jardim da Catedral São José. O barulho dos carros que passavam era abafado pelos cantos dos passarinhos que ocupavam as árvores do jardim e dos gritos das crianças que brincavam no parque, e eu, absorto, estava ali embasbacado e perplexo, sem querer acreditar no que estava presenciando.

Itabuna, com a sua vocação de grandeza, finalmente se tornou uma média metrópole, repleta de arranha céus e viadutos. A entrada da cidade, para quem vem de Ilhéus, foi totalmente urbanizada com um projeto arrojado e moderno, que mudou completamente o sistema viário da cidade. Acabaram-se os engarrafamentos. Logo à esquerda, antes de chegar ao posto de gasolina, ergue-se um bonito viaduto, que leva ao Bairro de São Caetano; um pouco mais na frente, outro viaduto que atravessava toda a cidade, cortado por outros caminhos alternativos. Foram construídas mais duas pontes e a cidade cresceu em direção ao bairro Jorge Amado. Também foram construídos alguns estacionamentos subterrâneos e a Avenida Centenário se transformou num grande calçadão arborizado e com vários espaços alternativos para encontros de empresários, amigos e namorados. O Rio Cachoeira, finalmente, foi despoluído e todos os esgotos e detritos foram retirados de suas margens. Um convênio, envolvendo as prefeituras banhadas pelo Rio, ONGs, a UESC e com o suporte dos Governos Estadual e Federal, propiciou, não só a recuperação do leito do rio, com a construção de um grande represa, como também, e foi o que mais me chamou a atenção: a construção de um projeto moderno de engenharia, permitindo navegação de barcos pequenos entre Itabuna e Ilhéus. As pessoas voltaram a pescar e a banhar-se no Rio Cachoeira. O shoping Jequitibá cresceu verticalmente, erguendo-se mais um pavimento e surgia um outro shoping, nas imediações do antigo supermercado Messias, bem maior do que o Shoping Jequitibá e com o designer similar ao do Salvador Shoping. O parque industrial já conta com muitas fábricas novas, principalmente de chocolates finos, o que contribuiu para dar um incremento à lavoura do cacau e tornar mais acessível o tablete de chocolate para o consumidor local. Todas as repartições escolares e empresas trocaram o “cafezinho” pelo chocolate.

Agora já podia ouvir nitidamente o som do trio elétrico puxado por Cocó do Lordão. Era o povo nas ruas comemorando o primeiro título do Itabuna, campeão baiano de profissionais. A federação mudou a sua filosofia de só enxergar Bahia e Vitória, e resolveu investir no fortalecimento das equipes do interior, dando suporte financeiro e criando diversas competições interessantes durante todo o ano. Agora, no interior, havia três equipe campeãs – Fluminense de Feira em 1969, Colo-Colo em 2006 e o Itabuna Esporte Clube.

Itabuna também se transformou numa cidade universitária e cultural, com o funcionamento de várias universidades particulares e, agora, a Universidade Federal, que abrigava, em sua maioria, alunos procedentes da região cacaueira e oriundos de colégios públicos. Foram inaugurados o Teatro e o Centro de Convenções de Itabuna, com eventos interessantes durante todo o ano. O Bairro de Ferradas foi transformado completamente com a construção do Museu Jorge Amado, um imponente prédio construído no local onde ele nasceu, visitado diariamente, principalmente, por turistas estrangeiros, ávidos por conhecer a história de um dos maiores escritores do Brasil. As ruas de Ferradas se transformaram em lojas, principalmente, de artesanato, à semelhança de algumas ruas de Itacaré. Várias crianças serviam de guias e conduziam os turistas para um passeio nas trilhas ecológicas de algumas fazendas de cacau, onde os turistas se maravilhavam com a Mata Atlântica, toda preservada e banhada por rios e cachoeiras. Até um aeroporto foi construído nas proximidades do Bairro Jorge Amado, onde pousam normalmente aeronaves 737 da TAM e da Gol.

Todos os canais e valas abertas na cidade foram fechadas e cobertas por jardins suspensos e modernos. Finalmente, a polícia mudou sua estratégia de ação; passou a ser polícia de inteligência e se aproximou mais da comunidade, acabando com a epidemia do “crack”, o que só foi possível com um trabalho de rede articulado com vários atores – Justiça, Ministério da Saúde, Secretaria de Justiça e Direitos Humanos , organizações não-governamentias e a Prefeitura, que criou várias clínicas de tratamento de crianças, adolescente e jovens drogados, com equipe interdisciplinar. Todos os bairros periféricos ganharam área de lazer e esportes, a polícia monitora todo o bairro com o auxílio dos moradores. O Governo implementou políticas públicas nos bairros da cidade e intensificou o programa de emprego e renda. O número de homicídios, furtos e assaltos caiu absurdamente, e as pessoas já andam tranquilamente pelas ruas. O Governo já pensa em reduzir o Presídio, pois a média de presos não ultrapassa 40 por mês e a lotação foi projetada para 440 custodiados, já que implica em gastos para o Estado, muito embora o preso se autosustente, pois há todo um trabalho de ressocialização, com a inserção em escolas e oficinas profissionalizantes, e todo o acompanhamento do egresso até que consiga novamente ingressar no mercado de trabalho, o que não é muito difícil, já que ele é muito bem preparado quando se encontra cumprindo pena. Itabuna, que alguns atrás ficara no topo das cidades mais vulneráveis com relação aos direitos dos jovens, tornou-se a cidade menos vulnerável com relação aos direitos de crianças, adolescentes e jovens, ficando mais humanizada com a criação de ciclovias no seu projeto de urbanização, fazendo com que as pessoas preferissem se deslocar ao seu trabalho de bicicleta, o que é mais salutar. A Catedral de São José foi mais uma vez reformada e ficou mais bonita, pois finalmente resolveram colocar o padroeiro São José para dentro do Templo.

Era difícil acreditar que tudo isso havia mudado em tão pouco tempo aqui em Itabuna, e resolvi então me deslocar com o meu veículo até Ilhéus, para saber se a cidade de São Jorge decolou ou se ainda continuava naquele marasmo de sempre. Logo ao sair de Itabuna, percebi que algo havia mudado, havia algo novo sobre o sol, pois estava dirigindo em mão única. Finalmente duplicaram a rodovia Jorge Amado, ornamentada com várias árvores de diferentes cores, e haviam vários empreendimentos entre Ilhéus e Itabuna, o que tornava dificil saber ao certo onde começava Ilhéus e iniciava Itabuna. Vários restaurantes e hotéis nas estradas, lojas de departamento, como Carrefour, Extra, Macro e alguns campus universitários. Resolvi entrar na UESC. Cresceu muito, parecia uma cidade. As salas de aulas já possuíam isolamento acústico e com toda a estrutura de áudio e vídeo, e o curso de Direito finalmente passou a oferecer o mestrado e doutorado. A Universidade continua com um bom conceito junto ao MEC.

Antes de chegar à Ponte que dá acesso a Ilhéus, vejo que foi criado um grande anel rodoviário, ligando à praia do Norte e também à parte da praia do Sul, tendo sido construída uma ponte no bairro Teotônio Vilela, que se transformou num dos bairros mais tranquilos de Ilhéus. O engarrafamento em Ilhéus também acabou, pois os carros, em sua maioria, não passavam pelo Centro da cidade, e as pessoas utilizavam muito a ciclovia. Também foram criados vários espaços para estacionamento.

Criou-se um magnífico Centro Administrativo e o Palácio Paranaguá se transformou num dos mais visitados museus da cidade, inclusive com um acervo riquíssimo somente sobre a história do esporte ilheense. O Estádio Mário Pessoa foi implodido e foi construído, em seu lugar, um grande Shoping Center, com numerosas lojas de departamento, tendo até academia de ginástica.

As ruínas dos armazéns situados nas proximidades do antigo terminal de ônibus deram lugar a um conglomerado de lojas, restaurantes, hotéis e espaço para encontros e para se ouvir a boa música. Parece até o porto Madeiro, da Argentina, só que aqui ele fica junto ao mar, e lá á margem do Rio de la Plata. Resolvi passar na Dois de Julho e vi muitos restaurante abertos, e ouvi, vindod de lá, voz e violão. Ao passar pelo Cristo, todo modificado e com um projeto moderno de jardins e bares, vi a nova ponte que sai da Rua Treze de Maio, no Pontal, e se integra a Avenida Soares Lopes, que se transformou numa nova Atalaia, com vários calçadões em direção ao mar, lojas de artesanato, restaurantes, parques de diversão, espaços para crianças. A Academia de Letras de Ilhéus tem, no seu átrio, algumas estátuas de vários homens que ajudaram a escrever a história de Ilhéus. E o que parecia impossível, agora era realidade: construiu-se um grande shoping nos moldes do Shoping Salvador, com várias lojas de departamento , cinemas, praças de alimentação e um restaurante panorâmico de frente para o mar. Uma beleza. A Avenida continua sendo o metro quadrado mais caro da cidade, só que agora ainda mais valorizado.

O Aeroporto Internacional é uma realidade, com voos diários para Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto alegre, além de Buenos Aires, Espanha, Itália e Portugal. A ferrovia leste-oeste é um sucesso e não houve grande dano ambiental, pois prevaleceu o princípio do desenvolvimento sustentável, sendo preservadas áreas extensas de reserva da Mata Atlântica. O porto novo multiplicou o seu movimento e se transformou numa grande alavanca para o progresso da cidade, com a criação de várias frentes de trabalho. O Comércio de Ilhéus cresceu assustadoramente e a segurança na cidade melhorou sensivelmente com o decréscimo do número de crimes, principalmente homicídio e roubos.

O colo-colo começou a respirar ares de democracia e vários presidentes se revezavam no cargo, numa alternância salutar do poder. Foi feito um alto investimento na divisão de base, com a participação de várias empresas, criando-se o CT, onde muitos talentos foram revelados, alguns até vendidos para o exterior por verdadeiras fábulas em dinheiro, o que transformou o Colo-Colo autosustentável, uma grande empresa, que independe totalmente da Prefeitura. O resultado é que o time já está disputando a segunda divisão e já almeja participar da elite do futebol brasileiro no próximo ano, contratando três ou quatro jogadores mais experientes. O Governo do Estado inaugurou nas imediações do Banco da Vitória, um excelente Estádio de futebol, com todas as recomendações da FIFA e com capacidade para 35 mil pessoas. O antigo Porto se transformou num estaleiro de embarcações grandes e numa estação de embarque e desembarque de cruzeiros marítimos, que continuam trazendo muitos turistas para Ilhéus, atraídos pelo grandioso patrimônio histórico, pelos diversos encantos e opções proporcionados pela cidade, toda limpa e bonita, e pelas praias maravilhosas. Um paraíso a espera do felizardo explorador. O Centro de Convenções e o Teatro de Ilhéus não têm recesso e os eventos estão agendados para todo o ano. O crack foi combatido, da mesma forma que aconteceu em Itabuna, e as pessoas já andam nas ruas à noite, tranquilas e sem camisa. Algumas chegam até a dormir com a porta aberta.

Estava ainda focado na entrevista do Caboclo Alencar ao Jô Soares, falando da sua filosofia de vida e revelando o segredo da sua famosa “batida” oferecida no seu ABC do Caboclo, ponto de poetas, intelectuais e toda a sociedade itabunense, quando ele dizia a JÔ que o “estabelecimento dele era como os grandes estabelecimentos do Brasil, como o Banco do Brasil, Universidades, pois tinha uma hora para abrir e uma hora certa para fechar o expediente. Tomei conhecimento do tempo. O programa do Jô estava começando mais cedo. Eram exatamente, 21h15min do dia 24 de janeiro de 2016. Meu aniversário. Estava completando 55 anos de idade e já estava aposentado. O Brasil ganhara mais um título mundial na copa de 2014. A Ponte Salvador- Itaparica era uma realidade, e o metrô de Salvador finalmente já funcionava bem e já fazia um percurso bem maior do que aquele traçado no projeto original.

Logo após essas palavras ditas pelo caboclo Alencar na televisão, senti uma frieza nas pernas. Era uma enorme onda que acabava de me acordar. Pensei até que era um tsunami, mas era apenas uma onda do mar de Ilhéus. Estava descansando nas maravilhosas praias do Cururupe e foi duro quando descobri que tudo não passou de um sonho, um grande sonho.Que pena! Era apenas um sonho. Ainda bem que eu ainda estava me deliciando nas belíssimas praia de areias finas, piscinas naturais, ornamentadas com coqueirais e aquela brisa, que sempre traz a serenidade e a inspiração. Isso, pelo menos, ainda é uma doce realidade.

Marcos Bandeira





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