terça-feira, 8 de novembro de 2011

DISCURSO DE MARCOS BANDEIRA COMO PRESIDENTE DA ACADEMIA DE LETRAS DE ITABUNA

DISCURSO DE MARCOS BANDEIRA AO TOMAR POSSE COMO PRIMEIRO PRESIDENTE DA ALITA




Gostaria, antes de qualquer incursão, de agradecer a distinção com que fui agraciado pela escolha de meu nome para presidir os destinos desta importante instituição de homens e mulheres de letras, no seio da qual, certamente, outros, por méritos próprios, galgariam com maior justeza tamanha honraria. Sinto-me profundamente honrado e ao mesmo tempo preocupado com as graves responsabilidades do cargo, principalmente porque a Academia de Letras de Itabuna já nasce grandiosa pela qualidade indiscutível de seus confrades e confreiras, e reconheço minhas limitações pessoais para enfrentar tal desafio.

O grande escritor Machado de Assis, quando fora investido no cargo de Presidente da Academia Brasileira de Letras, na sessão inaugural de 20 de julho de 1897, asseverou:

Investindo-me no cargo de Presidente , quisestes começar a Academia Brasileira de Letras pela consagração da idade. Se não sou o mais velho dos nossos colegas, estou entre os mais velhos. É simbólico da parte de uma instituição que conta viver, confiar na idade para funções que mais de um espírito eminente exerceria melhor.

Agora, no ano de 2011, analisando as palavras memoráveis do maior escritor brasileiro e fundador da Academia Brasileira de Letras,bem como as transformações ocorridas ao longo de mais de um século, posso afirmar que os ilustre confrades da Academia de Letras de Itabuna também consagraram a idade, simbolicamente, para confiar a sua paraninfia, só que a idade do mais jovem. Sim, porque dentre todos os confrades e confreiras, creio que sou o mais novo, o mais jovem acadêmico. Essa consagração à idade do confrade mais jovem na função de presidente desta Academia certamente tem a ver com a energia , a maior disposição, o entusiasmo, o olhar inovador, o sonho de alçar voos mais altos, servindo assim, os espíritos luminares e experientes dos demais confrades e confreiras, para canalizar melhor essa energia, amainar a disposição e conter um pouco o entusiasmo para transformá-los em serenidade, determinação e perserverança, e guiá-los, mostrando o melhor caminho para transformar os sonhos do presidente jovem em realidade.



A Academia de Letras de Itabuna foi fundada no dia 19 de abril de 2011, nas dependências da Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania de Itabuna, numa aspiração genuína de 08 homens e 07 mulheres em criar, em Itabuna, um centro referencial de cultura, a exemplo do que já ocorrera em Ilhéus, cuja academia foi fundada em 1959. Nascia ali, naquela manhã de abril – dia do índio -, de forma tão natural como o canto de uma guriatã, a Academia de Letras de Itabuna, inspirada no modelo da academia francesa, formada por homens devotados às letras e as ciências humanas, mas voltada precipuamente para a dignidade da pessoa humana e sua capacidade infinita de construir conhecimentos nas áreas da literatura e das ciências humanas. É verdade que a ALITA nasceu da dissidência com a AGRAL, quando cinco membros fundadores desta, Cyro de Matos, Marcos Bandeira, Ruy Póvoas, Carlos Passos e Antonio Laranjeira se desligaram dela, por divergências localizadas no elevado campo das ideias no âmbito de uma sociedade plural , e resolveram, com o concurso de Maria Luíza Nora, Ary Quadros, Geny Xavier, Marialda Silveira, Sonia Maron, Rilvan Batista, Dinalva Melo, Gustavo Veloso , Sione Porto e Lurdes Bertold fincar o alicerce da ALITA, que já nasce forte pela qualidade de seus membros e , sobretudo, pela sua inescondível vocação de ser uma entidade soberana e livre. Esse fato narrado é histórico e será sempre lembrado pelas gerações vindouras.O SER HUMANO É A CRIAÇÃO MAIS EXTRAORDINÁRIA QUE DEUS COLOCOU SOBRE A FACE DA TERRA. NEM A BELEZA DO MAR, DA NATUREZA, DOS ANIMAIS IRRACIONAIS, DAS ESTRELAS, NADA, NADA É COMPARÁVEL À GRANDEZA DO SER HUMANO. GRANDEZA QUE É MEDIDA NÃO PELO QUE ELE TEM, MAS PELO QUE ELE É. NADA ME ENCANTA MAIS NO SER HUMANO DO QUE OS SEUS VALORES ÉTICOS, SUA INTELIGÊNCIA, SUA SENSIBILIDADE, E SUA SEDE DESMEDIDA PELA BUSCA DO CONHECIMENTO, BEM COMO SUA CONDUTA SOCIAL E PROFISSIONAL COERENTE COM OS VALORES ÉTICOS QUE GUARDA CONSIGO. Movido por esse saudável propósito e inspirado nos ideais daquelas pessoas que fundaram a Academia Francesa de Letras, quedávamos a perquirir,a indagar uns aos outros, ou a nós mesmos: Porque uma cidade polo da Região Sul da Bahia, cuja produção literária de alguns de seus prosadores e poetas está disseminada em várias academias de letras e circula no mundo, sendo traduzida em vários idiomas, não possui ainda a sua própria academia de letras? Porque nossa coiirmã Ilhéus possui uma academia de letras desde 1959, em cujo corpo acadêmico estão muitos Itabunenses, e Itabuna, com uma plêiade de homens devotados à letra não poderia ter sua própria academia? Essas indagações e perguntas passaram a ser compartilhadas com o escritor Cyro de Matos que, nesse processo de construção da ALITA, foi o nosso grande timoneiro e líder. Ele, escritor reconhecido em todo o mundo, com vários de seus livros traduzidos em diversos idiomas, pertencente a várias academias de letras, inclusive a Academia de Letras da Bahia e a Academia de Letras de Ilhéus, queria, no fundo de sua alma de poeta, pertencer à academia de letras de sua querida Itabuna, cenário mágico e inspirador para suas prosas e poesias que atravessaram a fronteira do Brasil. E assim, do verbo se fez a vida, e assim nasceu a Academia de Letras de Itabuna.

Hoje é um dia histórico. Itabuna instala a sua Academia de Letras. O sonho de alguns homens e mulheres se transforma em realidade, mas o dia de hoje, por uma dessas felizes coincidências, provavelmente preparada pelos espíritos superiores, quis que a instalação da ALITA acontecesse precisamente no dia 05 de novembro de 2011, data de aniversário do mais ilustre dos baianos, Ruy Barbosa, que é patrono da cadeia nº 01, aquela que tenho a subida honra de ocupar. Esta solenidade, que acontece num dia tão especial, para nós, baianos, transcende no tempo e no espaço, pela grandeza do momento, simbolicamente representado pelo gesto altaneiro do Presidente da Academia de Letras da Bahia, Aramis Ribeiro Costa, a me investir na posse do cargo de Presidente da Academia de Letras de Itabuna. Pretendo dirigir a Academia de Letras de Itabuna com os ideais da alma e os olhos do coração, de que nos fala o inesquecível águia de Haya, quando na oração aos moços vaticinou:

Não, filhos meus (deixai−me experimentar, uma vez que seja,

convosco, este suavíssimo nome); não: o coração não é tão frívolo,

tão exterior, tão carnal quanto se cuida. Há, nele, mais que um

assombro fisiológico: um prodígio moral. É o órgão da fé, o órgão

da esperança, o órgão do ideal. Vê, por isso, com os olhos d’alma7,

o que não veem os do corpo. Vê ao longe, vê em ausência, vê no

invisível, e até no infinito vê. Onde para o cérebro de ver, outorgou−

lhe o Senhor que ainda veja; e não se sabe até onde. Até onde che−

gam as vibrações do sentimento, até onde se perdem os surtos da

poesia, até onde se somem os voos da crença: até Deus mesmo,

inviso como os panoramas íntimos do coração, mas presente ao céu

e à terra, a todos nós presente, enquanto nos palpite, incorrupto, no

seio, o músculo da vida e da nobreza e da bondade humana.



A nossa Academia tem como patrono o grande escritor Adonias Filho, que ocupou por muito tempo a cadeira nº 21 da Academia Brasileira de Letras, e que deixou um legado precioso para todos nós, como grande romancista e crítico literário, sendo um dos principais responsáveis pela riqueza cultural da nação grapiúna. Ele também nasceu no mês de novembro, precisamente no dia 27, dia que encerra simbolicamente as atividades acadêmicas da ALITA. A nossa Academia, seguindo a tradição da Academia Francesa e da Brasileira, é composta de 40 membros efetivos e respectivos patronos, além de membros correspondentes e honorários. A Revista da ALITA chamar-se-á Guriatã, em homenagem ao pássaro que leva as cores de Itabuna e que é muito conhecido por imitar o canto de outros pássaros.

Desta forma, e com a verve do bom sertanejo que não foge do seu destino e enfrenta todos os desafio que o Criador coloca na sua frente, espero, com o auxílio inestimável dos ilustre confrades e confreiras, presidir esta Instituição com a serenidade inspirada nos espíritos superiores de todos os seus membros e embalado pelos ventos da sã democracia, de sorte a empreender esforços para a elevação da cultura regional em todas as suas manifestações, independentemente de preferências políticas, religiosas ou filosóficas, voltados única e exclusivamente para o bom debate no saudável campo das idéias e da elevação do saber, além do convívio fraterno entre os confrades e as confreiras. Finalmente, quero agradecer a todos os familiares e amigos, especialmente a minha esposa, Rosana, pelo apoio , compreensão e estímulo.

Muito Obrigado!





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