segunda-feira, 3 de outubro de 2011

RIO MORTO

RIO MORTO




Cyro de Mattos*







Vejo tua face invisível



Na claridade das águas,



Espumas lavadeiras nas pedras



Diversicoloridias de roupas.



O céu azul de nuvens mansas.



A lua derramando prata



No areal deixado pela cheia.



Eu sou aquele menino



Que engoliu tua piaba



Para aprender a nadar.



Eu sou aquele menino



Que pegou tuas borboletas



Nos barrancos voando em bando



Eu sou aquele menino



Que sentiu com tuas boninas



A proposta livre da vida.



Eu sou aquele menino



Magro, esperto, traquino



Em tua paisagem luminosa.



Não havia, amor, dúvida,



Ares sombrios pegajosos



Cobrindo tua ilha com tesouro



Guardada por almas de piratas.



Nessa manhã de banho ausente,



Susto nos peraus e remansos,



O sol sem vidrilhar a correnteza,



Tristes meus olhos testemunham



Tua descida pobre e monótona.



Tua morte lentamente com sede



Inventada nas bocas de vômito...



Cachoeira o teu nome



Do rio que chora água.



Cyro de Matos é poeta, escritor, membro da academia de letras da Bahia e da Academia de Letras de Itabuna.















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