quarta-feira, 14 de outubro de 2009

JORGE AMARELINHO, O AMIGO.

JORGE AMARELINHO, O AMIGO.


“ É uma consolação na vida termos alguém
a quem descubramos os nossos corações,
a quem confiamos os nossos segredos,
amigo fiel que nos felicite na prosperidade,
que se condoa com a nossa tristeza,
que nos ampare se formos perseguidos’

(Santo Ambrósio)


Essa oração expressa a transcendência de um dos sentimentos mais puro e nobre que existe sobre a face da terra: amizade sincera.

Cada ser humano nesse mundo carrega dentro de si uma centelha de divindade, que muitas vezes é ignorada, ou até mesmo ofuscada e desprezada, pelos interesses mundanos deste mundo conturbado e efêmero. O tesouro da vida é encontrar essa jóia e compartilhá-la no seu dia-a-a dia.

Conheci Jorge, ainda adolescente, jogando futebol no “Vitorinha” da Conquista, onde já se destacava, pelo brilho de seu futebol arte revelado pelos dribles desconcertantes, futebol coletivo, bem como pelo raro “faro” de fazer gols ou de assistir o companheiro com passes magistrais . Após jogar no “Vitorinha” , jogou no flamengo, onde se consolidou como “craque” e daí se firmou, definitivamente, na seleção ilheense de futebol, na qual exercia inquestionável liderança, tanto dentro quanto fora de campo, principalmente, por já se preocupar com os problemas dos outros., mercê de sua personalidade forte, pois sempre lutava por aquilo que acreditava ser o correto e se indignava facilmente com as injustiças. Quem não se recorda do gol que fizera contra o Vasco da Gama do Rio de Janeiro em cima de Acácio, ou aqueloutro que fizera quase do meio campo contra o Botafogo do Rio de janeiro, após dá um corte em Josemar e bater por cima do goleiro alvinegro? Jogamos duas finais de intermunicipal, sagramos campeões pela seleção de Ilhéus em Senhor do Bonfim , e vice-campeão em Serrinha. Não tenho dúvidas de que se ele tivesse nascido na época certa e no lugar certo estaria jogando em qualquer clube grande e chegaria, por certo, a seleção brasileira. Foi um grande atleta e todos que tiveram o privilégio de vê-lo jogando futebol nas tardes de domingo no Mário Pessoa sabe perfeitamente que a emoção do momento não me levará a cometer exageros.

Hoje, todavia, não quero lembrar do grande atleta que ele foi , mas do exemplo imorredouro que ficará guardado na minha alma, de um homem simples e honrado, bom caráter, excelente pai de família, que embora não tenha se aprofundado nos estudos, foi mestre na arte de educar seus filhos – Antônio Jorge e Aila -, passando valores e princípios ao lado de sua companheira inseparável, Ray, com quem convivia há mais de 27 anos , formando uma família sólida e harmoniosa , marcada pelo amor, pelo espírito de solidariedade e justiça. Seus filhos o cumprimentavam com um beijo na face e ele falava deles com muito orgulho e com a esperança de vê-los bem sucedidos na vida.

Conheci o Jorge, amigo, fiel, confidente, prestativo, conselheiro, que pelo exemplo do seu comportamento me ensinou que a felicidade é feita de coisas simples, que vale a pena perseverar no bem, na justiça, na caridade. Na intimidade da minha família ou na faina diária de meu trabalho, Jorge era a presença constante e a palavra amiga e serena que me ajudava a erguer nos momentos difíceis, e que também estampava o riso e celebrava nos momentos gloriosos. Todos que o conheceram sabem que ele se preocupava mais com os outros do que com ele mesmo. Vários problemas da minha família ou de outras pessoas foram resolvidos por ele sem que recebesse nada em troca. Segundo Augusto Comte somente os bons sentimentos podem unir-nos verdadeiramente uns aos outros, nunca o “interesse” conseguirá edificar relações de amizade firme . A sua preocupação com sucesso do meu trabalho, a minha segurança pessoal ou o bem-estar da minha família era algo impressionante e sei que jamais encontrarei alguém tão correto, honesto, solidário e fiel na face da terra, mormente quando percebemos que convivemos num mundo de maldade, de dissimulação, egoísmo e muita violência.

A sua partida foi inesperada e dolorosa, mas ninguém melhor do que sua própria mãe, já octogenária e bem debilitada, na beira do caixão para reconhecer o “o bom filho” e dizer que fora ele quem mais cuidava e se preocupava com ela , e num desses desígnios divinos, respondendo a pergunta do neto, dissera ainda a sábia senhora que não iria beijar a face de seu filho morto, pois DEUS se encarregaria disso. DEUS ouviu a mensagem e dois dias depois levaria também a mãe de Jorge para junto dele, como a dizer: “ A senhora já cumpriu a sua missão terrena, nada mais terá a realizar neste mundo, a vida aqui nesse plano já não tem sentido, o seu filho Jorge vai precisar de sua ajuda, de seu carinho e de seu amor para seguir uma nova caminhada. Ajude-o , que EU acompanharei seus passos!

Amigo, Jorge, foi um privilégio conviver com você e conhecer os meandros de uma verdadeira amizade, revelada por essa centelha divina que habitou o seu corpo físico e que me fez crescer como pessoa humana. Toda a minha família e seus amigos estão tristes pela sua partida inesperada, mas jamais esquecerão os bons frutos que plantou aqui na terra. Essa jóia – nossa amizade – será muito bem guardada, não nos músculos vulneráveis do coração, pois este apodrece e é temporário, mas a guardarei para sempre no fundo da minha alma, pois esta é eterna e infensa a ação inclemente e inexorável do tempo.


Obrigado por tudo grande amigo e descanse em PAZ!


MARCOS BANDEIRA – 20.10.2003

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