ILHÉUS E ITABUNA: uma rivalidade burra
A capitania de São Jorge dos Ilhéus coube ao escrivão da Fazenda Real de Portugal Jorge Figueredo Correia, que, não podendo vir, mandou em seu lugar o jovem Francisco Romero, o qual partiu do Rio Tejo em 1535 chegando nestas terras no mesmo ano, aportando inicialmente na ilha de Tinharé, depois no Morro de São Paulo, para finalmente fixar-se no cume do oiteiro de São Sebastião, recebendo, a sede, inicialmente, o nome de Vila de São Jorge. A primeira igreja matriz foi construída no ano de 1556. A extensão territorial era muito grande, abarcando, em seu leito, Itabuna, Itajuípe, até o território onde hoje se encontra edificada a capital do país, Brasília, segundo o historiador e acadêmico Arléu Barbosa.
Itabuna, por sua vez, pertenceu a Ilhéus e foi desbravada, conforme afirma o historiador Moacyr Garcia de Menezes, por sergipanos, sertanejos e Ilheenses. O velho arraial de Tabocas, explorado por Félix Severino do Amor Divino, Manuel Constantino e outros sergipanos, desde fevereiro de 1841, tornou-se Vila em 18 de junho de 1906 e se emancipou politicamente de Ilhéus no dia 28 de julho de 1910, devido, principalmente, à luta e ao empenho pessoal do Cel. Firmino Alves. O Dr. Olinto Leone foi o primeiro intendente – prefeito – de Itabuna. Com o tempo, a cidade cresceu vertiginosamente, principalmente em face da força de seu comércio e da pujança de sua gente, mantendo, ao longo do tempo, a vocação de uma das cidades mais prósperas da Bahia. Ilhéus, por sua vez, linda por natureza e detentora de um invejável patrimônio histórico, é cantada e reverenciada em verso e prosa, por poetas e escritores, que realçam a beleza majestosa de suas praias, morros e a história de seu povo. O poeta Melo Barreto chamou-a de “Princesa do Sul“.
Morei em Ilhéus por muitos anos e atualmente moro em Itabuna. Conheço bem as duas cidades, tenho amigos comuns e um sentimento enorme de respeito por cada uma delas. Se se pode realçar a beleza de Ilhéus, não se pode ignorar a grandeza de Itabuna. Posso afirmar, sem qualquer hesitação, que as duas cidades são complementares. Como seria difícil imaginar Ilhéus sem Itabuna, ou Itabuna sem Ilhéus. Destarte, qualquer empreendimento grande, seja governamental ou não-governamental, que tencione implantar-se na região deve levar em consideração estudo sobre o potencial dessas duas grandes cidades.
Ora, se assim é, por que os nossos representantes políticos insistem em defender apenas os seus interesses provincianos e bairristas? A história é importante para que não venhamos a repetir os erros do passado. A nossa Região Sul da Bahia, que experimentou a época de ouro dos frutos do cacau, atraía pela sua riqueza pessoas de todo o mundo, que aqui aportavam para prosperar. A capacidade econômica da Região ajudava no crescimento de todo o Estado da Bahia, chegando ao ponto de se pleitear o seu desmembramento do Estado, para se tornar o Estado de Santa Cruz, o que não vingou, dentre outras razões, pelo nome que pretendiam atribuir ao novo Estado – Santa Cruz -, pois baiano que é baiano não quer perder a sua identidade e baianidade. Poderia ter sido Estado da Bahia do Sul, como aconteceu com Mato Grosso do Sul, que se desmembrou de Mato Grosso. A representação política da região, historicamente, com raras e honrosas exceções, sempre foi pífia, mesmo porque, em face dessa rivalidade burra, a região sempre elegeu parlamentares de outras plagas, “alienígenas”, sem qualquer compromisso com a região. Com o tempo, o que aconteceu? Ficamos para trás em relação a algumas cidades do Estado e perdemos muitos empreendimentos importantes para a Região, que se tornou pobre. Ainda bem que um grupo de homens compromissados, como Soane Nazaré de Andrade, Hamilton Ignácio de Castro, Henrique Cardoso e outros lutaram e deixaram a semente da Faculdade Católica de Direito de Ilhéus, embrião da Universidade Estadual de Santa Cruz. Outros homens de visão e espírito empreendedor, como Helenilson Chaves, Calixton Midlej e outros, também contribuíram para o progresso de Itabuna e Região.
O território entre Itabuna e Ilhéus já deveria se transformar numa região metropolitana, pelos inúmeros benefícios que serão proporcionados às duas cidades. A BR 415 deveria ter sido duplicada, pois já perdemos muitas vidas inocentes nessa estrada, em face de suas curvas perigosas e da falta de alternativas seguras para ultrapassagem. O aeroporto internacional deveria ser construído entre Ilhéus e Itabuna, próximo da Ceplac, onde estudos técnicos já apontam ser o local mais adequado. A Universidade Federal do Sul da Bahia deveria ser sediada na CEPLAC, beneficiando tanto a população de Itabuna quanto a de Ilhéus, como das cidades circunvizinhas. A aproximação das duas cidades é irreversível.
Não podemos repetir os erros do passado. É preciso que retiremos o olhar do umbigo e miremos mais longe. A nossa região tem potencial e precisa crescer. A quem serve essa rivalidade “burra” entre Ilhéus e Itabuna? Deixemo-la para os estádios nos jogos de futebol entre “papa-jaca” x “papa-caranguejo”. Assim, parodiando Nelson Rodrigues quando disse que toda a unanimidade é “burra”, afirmo que essa rivalidade, no campo político, econômico e cultural, entre Ilhéus e Itabuna, é “burra” e cega, e só serve para atravancar o progresso da Região Sul da Bahia.
Marcos Bandeira, é magistrado, professor da UESC e presidente da ALITA.
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