RIVELINO, O ÍDOLO.
O futebol sempre foi uma das grandes paixões da minha vida.
O fluminense, um caso de amor incondicional construído ao longo do tempo com o
êxtase das glórias e vitórias, bem com das angústias provocadas pelas derrotas.
Logo, as relações extraídas desse esporte maravilhoso, que é capaz de parar o
planeta, fazem parte da minha formação como pessoa humana. Aprecio o futebol
assim como um especialista aprecia uma boa obra de arte.
No futebol também joguei boa parte da minha vida nos palcos
amadores da Bahia, como ponta esquerda ou meia-esquerda. O amadorismo foi uma
opção pessoal. Quando jogava futebol as minhas principais características eram
os dribles curtos e desconsertantes - a expressão é essa mesma -, o chute forte de
fora da área, os lançamentos de longa distância, o domínio de bola e a cobrança
de faltas na entrada da grande área, principalmente da meia direita. Essas
também eram as principais características do meu ídolo, guardadas evidentemente as devidas
proporcões.
O meu ídolo não foi Pelé, Garrincha, Zico, Maradona, Zidane,
Romário ou qualquer outro monstro sagrado do futebol mundial. O meu modelo de
jogador, o meu ídolo no futebol verdadeiramente foi Roberto Rivelino. Canhoto,
como Rivelino, aprendi com ele o famoso “elástico”, que ele aplicou em Alcir do Vasco
da Gama, naquela memorável vitória de 1 x 0 em 1975, quando após aplicar o
elástico, Rivelino driblou Moisés, Miguel, e deu um tapinha, enganando Andrada,
arqueiro argentino do time da colina.
Rivelino era um jogador extremamente habilidoso, que se
notabilizou, principalmente, no fluminense pelos lançamentos de longa distância
para o "bufálo Gil" concluir em gols. Conhecido como a “patada atômica”, era detentor de
um chute muito forte e driblava seus adversários com certa facilidade, além de
engendrar as famosas “enfiadas”, quando deixava o companheiro na frente do gol,
ou melhor, “de frente para o crime”. Rivelino jogou no Corinthians, quando era
conhecido como “ garoto do parque”, todavia, não conseguiu ganhar títulos, o
que só veio a acontecer na Seleção
Brasileira, e no fluminense quando
sagrou-se bicampeão carioca – 75/76 . No Fluminense era conhecido como o “
curió das Laranjeiras”, dada à sua inclinação pelo referido passarinho. A máquina
tricolor, formada por jogadores de excelente nível técnico, como Carlos Alberto
Torres, Paulo Cesar Caju, Rivelino, Doval, Pintinho, Gil e outros, deixou
escapar os títulos nacionais de 75 e 76, por motivos até hoje não bem
explicados.
Eu sempre manifestei o desejo de conhecer os meus ídolos,
seja no esporte, na música, no Direito, enfim nas diversas áreas do
conhecimento humano. Alguns já morreram e com eles veio a frustração de não
conhecê-los pessoalmente, outros, entretanto, ainda estão vivos. Assim, por um simples
acaso, acabei conhecendo Rivelino. Numa segunda-feira morna, depois de driblar
o tráfego intenso de São Paulo, adentrei na escolinha de Rivelino, situado no
Bairro do Brooklin, e ali entre curiós e
papagaios, encontrei o meu ídolo, um senhor de sessenta e poucos anos, usando
um boné e atrás de uma mesa de escritório. Ele, extremamente educado, gentil,
sereno, convidou-me juntamente com minha filha para sentarmos em torno de uma
mesa menor e começamos a confabular, lembrando lances memoráveis da carreira
dele. Um relação serena, respeitosa, sem
o ingrediente do “piegas” ou do estéril irracionalismo de um fã, mas o momento
mágico, a realização de um sonho
acalentado há tempos, quando trocamos serenamente idéias sobre momentos
importantes da história do fluminense e da seleção brasileira. O tempo
literalmente parou. A nossa prosa durante cerca de 40 minutos, que para mim
passaram como um raio, mas que ficará para sempre guardado na minha memória. Uma
curiosidade: Rivelino confidenciou-me que aprendeu o famoso “ elástico” com um japonês
chamado Eduardo. Rivelino, ainda deixou gravada uma mensagem para meu
pai, que está prostrado numa cama há três anos, em face de um AVC. Meu pai, numa
homenagem ao crack, colocou em 1971 o prenome “ Rivelino” no meu irmão caçula. Saí
daquele encontro extremamente feliz e com a alma refrigerada pela possibilidade
ímpar de ter conhecido pessoalmente o meu ídolo.
Hoje, vejo o velho Rivelino, como o grande guerreiro que
saiu com dignidade da “guerra” e que, agora,
aprecia , entre os cânticos dos pássaros e as peraltices dos
papagaios, com serenidade e
humildade, os tesouros que conquistou ao
longo de sua carreira vitoriosa. Na escolinha do Rivelino está a esperança de
revelar valores para o esporte
brasileiro. Grande Rivelino, obrigado por este momento inesquecível e pelos
inúmeros momentos maravilhosos que me proporcionou ao longo de sua carreira
futebolística.
Marcos Bandeira
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