terça-feira, 20 de março de 2012

HOMENAGEM AO EX-TETRA CAMPEÃO MUNDIAL ALDAIR

DISCURSO EM HOMENAGEM AO EX-JOGADOR ALDAIR





 Louco, sim. Louco, porque quis grandeza


Qual a sorte a não dá


Não coube em minha certeza


Por isso onde o areal está


Ficou meu ser que houve, não o que há


Minha loucura, outros que me a tomem


Com o que nela ia.


Sem a loucura que é o homem


Mais que a besta sadia


Cadáver adiado que procria?


Fernando Pessoa ( homenagem ao Rei de Porltugal, D. Sebastião)



Quisera o destino me tornar porta-voz de toda a comunidade da AABB de Ilhéus nesta homenagem que ora é prestada ao nosso astro Aldair

Mas o que teria um simples ex-jogador de futebol amador, limitado aos palcos domésticos do interior da Bahia a dizer a uma estrela do futebol mundial, tetra-campeão mundial e consagrado no Benfica e Roma?

Creio que outras pessoas mais qualificadas poderiam desincumbir-se do mister com mais legitimidade e merecimento. Somente a generosidade e amizade que consegui cultivar no futebol é que criaram as condições para me trazer aqui, e fazer esta saudação.

Mas Aldair, gostaria de lhe dizer algumas palavras, que pode ter certeza, estão saindo do meu mais profundo íntimo. Gostaria de lhe falar de sonhos, destino, perseverança, liderança, humildade , valorização da sua origem e do amor.

Pode crer Aldair, que cada um de nós aqui neste planeta terra tem uma misssão a cumprir, e que um dia haveremos de morrer “ fisicamente”. E quando chegar próximo deste momento, alguém poderá indagar: qual foi a tua obra? Qual o teu legado ? neste momento vamos volver os olhos e reconstruir toda uma estrada...e lá no início, você encontrará seus sonhos, seus primeiros passos...

..Quando eu era pequeno, admirava o avião passar e sonhava um dia pilotar o meu próprio avião e sair por aí, entre as estrelas...sem destino predeterminado; Depois, já adolescente, queria ser jogador de futebol, jogar no maracanã num grande clube e ser reconhecido em todo o Brasil....Como era agradável ver Zico, Rivelino, Geovani jogar...eu queria ser um deles, estar entre eles....Não consegui vôos mais altos, mas o garoto humilde e tímido do Banco da Vitória, Aldair, filho de Carmerindo conseguiu chegar lá. O início não foi fácil, pois ainda não houvera encontrado a sua verdadeira posição. Como centroavante não conseguiu jogar na Seleção de Ilhéus e nem ficou no Vasco da Gama, mas resolveu perseverar e foi morar no Rio com um parente. Aí entra o destino, o mesmo destino que mudou a vida de Douglas, na minha opinião o maior jogador do Bahia de todos os tempos. Douglas, reserva de Pelé no Santos, estava sendo negociado com o América do Rio, inclusive já estava com a passagem da ponte aérea comprada, quando Manu, de passagem por São Paulo, o viu jogar e ligou para Osório Vilas-Boas...Douglas estava só estava aguardando Giuilite Coutinho, que estava na Europa, assinar o contrato para viajar para o Rio e jogar no América, quando o Bahia atravessou rapidamente e acertou com o Santos , colocando Douglas num avião rumo a Salvador para jogar no Bahia, onde foi ídolo por muito tempo. Se o destino não tivesse colocado o Bahia na vida de Douglas, ele não estaria vivo, pois o avião que ele ia embarcar para o Rio caiu em Petrópolis em abril de 72, matando os 72 passageiros.Na vida de Aldair, o destino colocou o ex-jogador do flamengo( poderia ter sido do fluminense), Juarez, que o observou numa pelada e percebeu o seu grande potencial. Levou para o Flamengo. Lá marcou implacavelmente Mauricinho, jogando de lateral esquerdo. Logo depois, foi se firmando como Zagueiro eficiente e extremamente técnico, que sabia não somente marcar, mas sair jogando. Era a realização de um sonho de um garoto do Banco da Vitória, que também realizava o sonho de milhares de garotos, como eu, de jogar no maracanã, num grande clube. O sucesso começava a bater na porta de Aldair. Nascia para todos , principalmente, os ilheenses de coração, o legítimo orgulho de assistir na televisão e bater no peito – é aquele ali é Aldair do Banco da Vitória, de Ilhéus – que orgulho.

Mas o sucesso estava apenas começando....Aldair alçaria vôos mais altos....É convocado para a Seleção Brasileira. Que maravilha, um Ilheense na seleção canarinha. O orgulho e uma nação toda torcendo por você, Aldair. Você, sempre tímido, de poucas palavras, mas de uma determinação e perseverança de um gigante, de um líder, pois liderança, segundo Nelson Mandela, que ficou 27 anos na prisão lutando por um ideal na África do Sul, “ significa mover as pessoas em certa direção, geralmente por meio da mudança de direção do seu pensamento e de suas ações”. Aldair, decolava e mudava toda a estrutura de uma família comandada por seu pai Carmerindo , seus irmãos, Celio, Clodoaldo, Bagageiro, Bigu e irmãs, através de suas atitudes, da sua luta, da sua humildade, da sua perseverança em alcançar o seu objetivo. Sei que não foi fácil, muitos obstáculos foram removidos na caminhada...mas você chegou lá...e decolou novamente...foi contratado pelo Benfica de Portugal. Mas o tempo passou...e o talento de Aldair cada vez mais é reconhecido. Consagrado na Seleção Brasileira é contratado pelo Roma, onde se tornou verdadeiro ídolo, podemos afirmar que foi um dos reis de Roma. Aldair já era um atleta consagrado . Convocações sucessivas para a Seleção Brasileira, na qual jogou 87 vezes, sendo 64 vitórias, 20 empates e apenas 3 derrotas. Participou das copas do mundo de 90, 94 e 98. Conquistou duas copas Américas: 1989 e 1997. Inda podemos acrescentar a copa Umbro em 1995, medalha de bronze nos jogos olímpicos de 96 e copa da Federação de 97, mas Aldair se consagrou definitivamente como o grande tetra campeão do mundo em 1994, título que o Brasil lutava há mais de 20 anos. E aí, mas uma do destino, Aldair é convocado como reserva de Ricardo Gomes e Ricardo Rocha. Ambos se contundem, e Aldair passa a ser titular absoluto, com uma atuação simplesmente fantástica, impecável, se revelando como um dos maiores responsável pelo tetra campeonato. Aldair não é mais um simples cidadão de Ilhéus, do Banco da Vitória, mas um cidadão admirado em todo o mundo. É a glória suprema, a consagração de um grande jogador, que sonhou, lutou, perseverou e conseguiu alcançar o seu objetivo maior.

Aldair, você está imortalizado na história do futebol brasileiro e mundial. Você jamais morrerá, pois estará sempre em nossos corações e memórias, pela bela história que você construiu. O querido João Nogueira diz em sua canção “ que a vida é mesma missão, a morte é uma ilusão, só sabe quem viveu, pois quando o espelho é bom ninguém jamais morreu”. E você Aldair, encarnando os valores de seus pais, lutou, perdeu, ganhou, perseverou e conseguiu concretizar os seus sonhos de garoto humilde do Banco da Vitória.

Eu adoro futebol, essa extraordinária invenção humana, que é capaz de parar um país, um continente , e por que não dizer o planeta. É também a razão de estarmos aqui reunidos, além da merecida homenagem a Aldair. O futebol, como pensam alguns, não é simplesmente o esporte de vários homens correndo atrás de uma bola. Ela é muito mais que isso, é a arte pura equivalente a grande apresentação de uma ópera. È o movimento transformado em arte. È o flerte do drible do jogador, da bela jogada trabalhada, do lençol, do lançamento de 100 metros, da matada no peito, da ginga do carregador de piano, da tabelinha, do arremate de “ três dedos”, ou da folha seca, da defesa espetacular do goleiro, da elegância de Aldair no desarme ou na saída de bola, da liderança do capitão sobre seus pares, da bola na trave, ou a precisão do arremate colocando a bola onde a coruja dorme. O futebol é estratégia do treinador para chegar a vitória, o futebol é a explosão do orgasmo do gol, do poder de superação e da perseverança do time que está perdendo, e que busca reverter a situação que lhe é desfavorável. O futebol é a magia e a paixão do gol aos 44 minutos do segundo tempo, que muda completamente a história de um jogo que vinha se desenhando ao longo de 89 minutos. O futebol, portanto, Aldair, é arte, paixão, magia, mas acima de tudo, molda o caráter e o espírito de liderança, ensina a trabalhar o seu equilíbrio emocional, ensina a sonhar, a perseverar, fortalece o espírito de união e solidariedade, estimula a disciplina e reverencia o respeito, mas, ao mesmo tempo, estimula o atleta a superar os seus próprios limites, ensinando a ganhar e,o que é mais difícil, a perder, sobretudo com dignidade, demonstrando que a vida é assim, ou seja, a vida é feita de desafios, de perdas e ganhos. Parodiando o inesquecível Raul Seixa, o futebol imitando a vida, é feito de batalhas.. é preciso caminhar, e você Aldair, não desistiu nunca, aprendeu humildemente com as perdas verificadas no seu caminho, e sempre perseverou e tentou outra vez.

E agora, para finalizar, Aldair, que contei um pouco da sua história, qual é a tua obra, qual é o legado que pretende deixar para as futuras gerações?

Você com a sua luta incansável pela realização de seus sonhos mostrou que é possível alcançar os nossos objetivos, desde que sejamos humildes, perseverantes, honestos, éticos, e acreditemos em nosso potencial, seja ele qual for. Isso vale para tudo na vida. Que devemos sempre respeitar os valores que nos foram passados pelos nossos pais; que devemos sempre valorizar a nossa família e os nossos amigos, e acima de tudo, jamais esquecer ou ter vergonha de nossas origens. Embora eu seja sertanejo de Bom Jesus da Lapa, tenho um grande amor por essas terras dos São Jorge de Ilhéus, aonde cheguei com apenas 13 anos de idade, e posso afirmar, que Ilhéus tem muito orgulho de tê-lo entre seus filhos natos. Creio que esses são os valores que você deixa para a presente e futuras gerações. Esta homenagem simboliza este gesto de amor e reconhecimento. Agora, que acabou a sua carreira profissional de jogador de futebol, com a aposentadoria merecida e com os novos desafios que lhe espera, você pode colocar a cabeça no travesseiro, olhar o caminho percorrido e com a consciência tranqüila expressar as mesmas palavras do apóstolo Paulo, que no final de sua luta de amor a Cristo, disse:

Combatí o Bom Combate, acabei a carreira, guardei a fé; II Timóteo. cap. 4,

Muito obrigado

MARCOS BANDEIRA

Um comentário:

  1. Lembro-me do Aldair passeando pela Av. Soares Lopes onde possuía um grande e vistoso apartamento num prédio de luxo; já brilhava na Seleção do Brasil.
    Bem que ela deveria ter passado pelo Fluzão, não é, Dr. Marcos? Gostei da ideia.
    Um grande abraço, Feliz Páscoa!

    ResponderExcluir