domingo, 8 de julho de 2012

MENSAGEM PARA "CLAVE DE SOL"


                 MENSAGEM  PARA “CLAVE DE SOL”

                                                            Vou fazer a louvação, louvação, louvação

                                                            Do que deve ser louvado, ser louvado, ser louvado ...

                                                                                                           Gilberto Gil


A Escola de Música Clave de Sol pede passagem! Neste finalzinho de outono apresentou seu trabalho, espalhando música no ar em bonito espetáculo exibido no espaço sobrevivente denominado “Centro Cultural”. Paciência, é o que nos restou. Aliás, refletindo bem, nós temos o espaço que merecemos, prêmio do conformismo do povo e indiferença dos seus representantes. Diante da nossa triste realidade, pelo menos nos seja dado  “louvar o que bem merece...” como diria  Gilberto Gil.
Música de verdade, é o que oferece Mariângela. Música de verdade é a  que tocam e cantam seus pirralhos e seu coral de adultos. Gente dessa estirpe defende a preservação da cultura de Itabuna, já agonizante em várias de suas vertentes.
Quando me refiro à cultura, busco seu sentido  amplo -  melhor dizendo, sócio-antropológico -  deixando de lado o significado do senso comum. Sob esse ângulo a cultura é o modo de vida próprio de cada povo, é o fundamento da sociedade, é a distinção entre o homem e o animal.Em síntese, tudo que o homem acrescentou  à natureza, no conceito de Claude Levi-Strauss, constituindo legado gerador de uma obrigação para as gerações do porvir. Manter viva a chama que alimenta a sensibilidade, conduzindo a geração do amanhã a fugir da vulgaridade, irmã do mau gosto e da pobreza intelectual,  tem sido a missão da Clave de Sol.
Não é exagero afirmar que aquelas crianças que ouvi cantando e tocando instrumentos musicais, nos  dias 2 e  3 do mês corrente, com as incursões no patrimônio musical dos povos, aprendem o melhor do conjunto de comportamentos, símbolos e práticas sociais, repetidos de geração em geração através da vida em sociedade. Vale ressaltar que o comportamento humano é aprendido e não herdado.  A ave canora canta porque nasceu para cantar. O homem vai ter que aprender a cantar. A escolha do repertório é opção de cada um, dependendo da lapidação propiciada pela educação. O pior é que o povo grapiúna só tem dançado...
A propósito, será que  a sociedade merece o culto do “arrocha” e da tenebrosa “dança da garrafa”? Ou seria preferível saber que a música popular brasileira, para ser apreciada e vivida, não precisa degradar-se?
Em verdade, temos música para todos os gostos: clássicos como Villa Lobos e Carlos Gomes:  a “Bossa Nova” (merece iniciais maiúsculas) nossa fase de ouro;  sambas imortais nos versos de Cartola e Pixinguinha, Noel Rosa;  o Nordeste de Luiz Gonzaga, Dominguinho e Nando do Cordel, passando pelos imortais chorinhos.   Um número inesgotável de cantores e compositores  embelezam e envaidecem  nossa herança musical, enriquecida,  ainda mais, pela contribuição  de Antonio Carlos Jobim (o outro, é evidente, o maestro “Antonio Brasileiro”, orgulho e glória da MPB brasileira), Toquinho, João Gilberto, Edu Lobo, Caetano e Chico Buarque, Milton Nascimento, Dorival  Caymmi, Gonzaguinha. Ora,  é um nunca acabar de beleza, bom gosto e criatividade, sem esquecer as marchinhas, frevos, sambas e sambas-enredo carnavalescos, abafados pelos decibéis tão em moda na “modernidade” bahiana ou “pós-modernidade” (sabe Deus!) e de alguns poucos Estados que acham  por bem ler na mesma cartilha. Beleza pura  gente ! Vai ver que nós, com o tímpano rompido, não entendemos.
No  particular, neste chão itabunense que é nosso, padecemos de uma espécie de “vassoura de bruxa cultural”,  caminhando para a endemia: passamos de cinco cinemas e três teatros para os trios elétricos e shows do Espora de Ouro, espaço existente na antiga fazenda do Coronel Tertuliano Guedes de Pinho, generoso doador da área que chegou a ser nosso aeroporto, sem esquecer da destruição  de imóveis que faziam parte da memória de Itabuna. Vale lembrar que o Cine Marabá reservava um dia da semana para exibição do “Clube do Cinema”, coordenado por um grupo de amantes da sétima arte.
Com a devida vênia, este  solo que tanto amamos,é a cidade do “foi”, “será um dia”,  “vai  ser”, “chegou a ser”, cantilena  ouvida nos palanques eleitoreiros. Enquanto isso o remédio para a endemia não é empregado apesar de existir. E  todos sabem que existe...
Paciência, gente. Já encerrei minha louvação. De vez  em quando é preciso acordar  do sono acenado pelo “berço esplêndido” para cantar com Gilberto Gil:
Louvando o que bem merece
Deixo o que é ruim de lado...
Mariângela Montalvão  merece a louvação.


                                                                     Sônia Carvalho de Almeida Maron

                                                                                                 Juíza de Direito

                                                                                          Ex-professora da UESC

                                                                                         Vice-presidente da ALITA


2 comentários:

  1. Ceres Marylise Rebouças de Souza8 de julho de 2012 às 17:58

    Dr. Marcos

    Obrigada por me permitir a releitura dessa joia escrita de forma tão elegante por nossa querida confreira, Sônia Maron, sobre Mariângela da escola Clave de Sol, um ícone cultural de nossa terra que realmente merece nossa louvação!

    ResponderExcluir
  2. Querida prof.ª Sônia Maron, bela louvação e graciosa lembrança de Gil e demais excelentes artistas brasileiros, nossa querida Tia Mari e a radiosa Didi! Tudo mui belo mesmo!

    ResponderExcluir