terça-feira, 6 de janeiro de 2015
FELIZ ANO NOVO
QUE POSSAMOS CRIAR EM 2015 AS CONDIÇÕES NECESSÁRIAS PARA VIVER EM PAZ E SEMEAR A SEMENTE DA CONCÓRDIA, DA SOLIDARIEDADE E DO AMOR.....QUE NOSSAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES POSSAM SER, DE FATO, SUJEITOS DE DIREITOS E TITULARES DE DIREITOS FUNDAMENTAIS.......E QUE OS ADOLESCENTES SEJAM RESPONSABILIZADOS PELOS ATOS INFRACIONAIS PRATICADOS, NA FORMA ESTABELECIDA PELA LEI......
QUE O ESTADO NÃO SEJA MAIS OMISSO NA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS, ESPECIALMENTE NA CRIAÇÃO E EXPANSÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS EM MEIO FECHADO.............
QUE SEJAM CRIADAS COMUNIDADES TERAPÊUTICAS INTERDISCIPLINAR PARA TRATAMENTO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES USUÁRIOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS.....................
QUE NÃO DEIXEMOS A INDIFERENÇA TOMAR CONTA DE NOSSOS CORAÇÕES......QUE NUNCA DEIXEMOS DE NOS INDIGNARMOS COM A INJUSTIÇA.
UM FELIZ ANO NOVO A TODOS OS LEITORES!
MARCOS BANDEIRA
sexta-feira, 5 de dezembro de 2014
DIREITOS DO HOMEM ADOTANTE
DIREITOS DO HOMEM ADOTANTE
Com cultura e legislação que privilegiam a mãe como cuidadora de crianças, o Brasil avançou na concessão de direitos aos homens no caso de adoção. Mas especialistas ouvidos pela Agência Brasil destacam a necessidade de ampliar as conquistas legais relativas à família, igualando homens e mulheres pais de filhos biológicos ou adotivos. Além disso, ressaltam as dificuldades de transportar as mudanças na letra da lei para o dia a dia da sociedade.
Em outubro do ano passado, a Lei n° 12.873 trouxe alterações favoráveis ao homem adotante, modificando as legislações previdenciária e trabalhista. Pelas novas regras, homens passaram a ter direito a salário-maternidade, até então pago por quatro meses às seguradas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) que adotassem. Na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), os quatro meses para cuidar da criança também passaram a ser requisitados pelo homem ou mulher adotante.
Este ano, foi a vez de servidores públicos federais ganharem o direito de se licenciar para cuidar de filhos adotivos. No início de outubro, o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão publicou duas notas técnicas com a interpretação de que a licença adotante, prevista na lei do funcionalismo público federal só para servidoras, independe do gênero. A decisão foi uma resposta ao caso concreto de Carlos Eduardo dos Santos, 54 anos, professor do curso de enfermagem da Universidade de Brasília (UnB). A partir da publicação, passou a ser válida para todos os servidores.
O reconhecimento do direito foi demorado. Carlos Eduardo, que em dezembro de 2013 tornou-se pai dos irmãos Felipe, 8 anos, Fagner, 6, e Vitor, 4, está aproveitando só agora a licença de 45 dias, prazo no caso de crianças maiores de 1 ano. Ele e o companheiro Osmir Messora, 53, servidor aposentado da prefeitura de São Paulo, tiveram de esperar dez meses para Carlos receber resposta à sua consulta. No intervalo, saiu a guarda de Vinícius, 2 anos, também irmão dos garotos, mas que na época da adoção deles ainda não tinha a papelada necessária.
“Fizemos consulta ao [departamento] jurídico da universidade, que deu parecer favorável. De lá, subiu para o Ministério da Educação, que também foi favorável. Por fim, foi para o Ministério do Planejamento”, relembra Carlos Eduardo. Para ele, a decisão abrangendo todos os servidores surpreendeu. “A gente não tinha ideia. Além disso, o ineditismo foi não precisar entrar na Justiça.”
Se as crianças tivessem menos de 1 ano, Carlos Eduardo poderia pleitear uma licença maior: 90 dias, prorrogáveis por 45. “A legislação acha que há necessidade de mais atenção para crianças com menos de 1 ano. Na minha opinião, a necessidade é igual [independente da idade]. O período de licença é primordial para criar vínculos. É um tempo fundamental para se dedicar às crianças, ter convívio, acompanhar as horas de alimentação e higiene”, diz.
Ana Lúcia Amorim Brito, secretária de Gestão Pública do Ministério do Planejamento, afirma que a extensão da licença a servidores do sexo masculino levou em conta a Constituição Federal, que considera a família base da sociedade. “A família tem direito à proteção do Estado e consideramos que ela está ligada por vínculos de afetividade”, comenta. As notas do Planejamento preveem que, nos casos de adoção homoafetiva em que os dois sejam servidores, a licença só poderá ser pleiteada por um. O outro terá direito à licença-paternidade, de cinco dias, originalmente prevista na Constituição Federal para que o homem pudesse acompanhar a mulher no pós-parto e registrar a criança. Na adoção por casais heterossexuais, a licença adotante será concedida preferencialmente à servidora.
O advogado Conrado Paulino da Rosa, especializado em direito de família, cita a licença-paternidade como prova de que há diferença entre os direitos e deveres de pais e mães. “Houve avanços na adoção, mas, em se tratando de filhos biológicos, o tratamento é desigual. A mulher pode se licenciar por meses, e o homem, por cinco dias. Só a mulher é responsável pelo filho. Isso acaba trazendo um fardo maior para ela e faz parecer que a figura do homem é secundária. A gente precisa mudar não só a legislação, mas também a cultura sobre o papel igualmente importante dos dois”.
A psicóloga Carmem Cavalcante, da Rhaiz Consultoria em RH, afirma que o ambiente empresarial também é resistente a avanços como o da licença ao homem adotante, ou um eventual aumento da licença-paternidade. Segundo ela, isso ocorre mormente por motivações econômicas. "Geralmente as empresas só agem após serem formalmente obrigadas por mudança nas leis, e mesmo assim há dificuldades. A gente ainda vê muita negociação, pessoas que abrem mão do seu direito para não perder o emprego. As empresas, muitas vezes, têm intenção de cumprir a lei, mas isso inviabilizaria o próprio negócio. Imagine uma empresa pequena, com três empregados, duas mulheres e um homem. Elas ficam grávidas e ele adota uma criança. Além de substituí-los durante a licença, a empresa teria que continuar pagando seus salários”, comenta.
Carmem é a favor de debate entre o Poder Público e empresários, e de compensações no caso de pequenas e médias empresas. “Acho o pleito justíssimo. A criança e o bebê têm direito ao cuidado e ao carinho. A origem do problema está no sistema. Ao mesmo tempo que se precisa evoluir do direito da figura materna ou paterna, tem que ser olhado o outro lado, o da aplicabilidade. [As empresas] precisam de ajuda do governo, algum tipo de benefício”, acredita.
FONTE: MARIANA BRANCO - AGÊNCIA BRASIL
quarta-feira, 12 de novembro de 2014
SENTENÇA QUE RESGATA A RESERVA MORAL DO PROFESSOR BRASILEIRO
SENTENÇA
I – Relatório
Dispensado o relatório, na forma do art. 38 da Lei 9.099/95.
II – FUNDAMENTAÇÃO
O Autor é estudante. O demandado, professor. Neste contexto, já se
deveria asseverar que o docente, jamais, traria algum abalo moral àquele ser
que lhe foi confiado a aprender. Pelo contrário! O professor é o indivíduo
vocacionado a tirar outro indivíduo das trevas da ignorância, da escuridão (a
lumno: sem luz), para as luzes do conhecimento, dignificando-o como pessoa
que pensa e existe (cogito, ergo sum: penso, logo existo, na preciosa lição de
Descartes).
O que temos no Brasil? Uma completa inversão deste valor,
explicável se levarmos em conta que, no século passado, ficamos
aproximadamente 40 anos em duas ditaduras que entenderam o valor da
Educação como ferramenta de tirania e alienação, transformando professores
em soldados de ideologias totalitaristas, perfilados em salas de aula em que sua
disposição espacial dá toda esta diretriz: o professor em pé, discursando;
os alumnos sentados, indefesos, recebendo toda carga do “regime”.
Vieram os períodos de democracia, e o que se fez? Demonizou-se a
educação! Sim, pois eram alinhavadas com os regimes absolutistas, que tinham
o “disparate” de ensinar nas aulas de Educação Moral e Cívica, Orientação
para a Vida, Organização Social e Política do Brasil e afins que fazer greve era
errado; que o indivíduo de bem deve se submeter, sem questionar à autoridade
estatal; que quem questiona não é de boa índole...
É certo que o modelo educacional utilizado pelo Estado Novo e pela
Ditadura Militar era tendencioso e unifacetado. Não havia espaço para
diferenças. Tampouco para minorias. Mas o que se fez foi escantear aquele
modelo educacional e...Este é o ponto! O modelo educacional brasileiro de outrora foi
abandonado e, até agora, nenhum o sucedeu. É bem verdade que a quantidade
de dinheiro aumentou, mas o investimento (não só financeiro) é péssimo.
Ainda temos uma maioria esmagadora de centros educacionais no Brasil que
remontam ao século XIX, insalubres, massacrantes e nada atrativos, conforme
várias matérias jornalísticas despejam periodicamente nos meios de
comunicação.
Quem sofre com isso? O país como todo, é verdade. Os alunos e
pais de alunos, diretamente. Mas fico a pensar, também, naquele que nasce
vocacionado para ensinar, que se prepara anos a fio para isso, e, quando chega
o grande momento, depara-se com uma plateia desinteressada, ávida pelos
últimos capítulos da novela ou pela fofoca da semana, menos com a regência
verbal ou a equação de segundo grau, até porque não possui nenhuma
ferramenta “atrativa” para combater a contracultura das massas.
A concorrência é desproporcional, mas houve uma época em que
ser pego em sala de aula fazendo palavras-cruzadas ou trocando bilhetes com
outros discentes era motivo para, no mínimo, fazer corar a face do aluno
surpreendido.
O professor era autoridade de fato e de direito na sala de aula. Era
respeitado como tal, pois a sociedade depositava sobre seus ombros a
expectativa de um futuro melhor para os mais mancebos. Possuía licença de
cátedra, liberdade para escolher o método que houvesse por bem, para melhor
alçar o espírito dos pupilos. Ensinar era um sacerdócio e uma recompensa.
Hoje, parece um carma.
Voltando à querela: o que pretende o Autor? Reparar seu
“sentimento de impotência, revolta, além de um enorme desgaste físico e
emocional” (fls. 03, 4º parágrafo). E por que? Porque o ora Reclamado, na
condição de professor, “tomou o celular do aluno, ora REQUERENTE, na sala
de aula, isto porque o aluno pegou o celular para ver a hora” (fls. 02, 4º
parágrafo, última parte).
Analisando a prova colhida em audiência, vemos que o aluno não comprovou o alegado, não se desincumbindo do ônus probatório previsto no
art. 333, I do CPC, ou seja, não comprovou seu fato constitutivo, produzindo
tão somente “meras alegações”. A prova oral produzida a seu rogo não
comprovou em nenhum momento que o aparelho celular foi tomado do autor
de forma injusta ou desmotivada. Sucintamente: não há um único elemento
probatório em favor da tese empreendida pelo autor.
De outra face, analisando os demais elementos probatórios, vemos
que os elementos colhidos apontam para o fato de que o Autor não foi “ver a
hora”. O mesmo admitiu que o celular se encontrava com os fones de ouvido
plugados e que, no momento em que o professor tomou o referido aparelho,
desconectou os fones e... começou a tocar música.
Aliado a este fato que, repise-se, foi relatado pelo próprio Autor, as
testemunhas arroladas pelo Requerido, Professora e Coordenadora do
estabelecimento de ensino onde os fatos ocorreram, foram categóricas em
afirmar que o mesmo Autor, embora não seja um aluno que “dê trabalho” e não
faça as atividades educativas propostas pelos docentes, já foi flagrado em
outras vezes com fones de ouvido em plena ministração de aula.
O Requerido, em seu depoimento, afirmou que diversas vezes
chamou a atenção do Aluno por utilizar o aparelho celular para jogar ou ouvir
música em sala de aula, sendo que em uma certa vez, este chegou a utilizar
uma “caixinha de som” durante a aplicação de uma prova.
O que fez o aluno, ora Autor, no dia dos fatos? Além de descumprir
a norma encetada no art. 48, VII, de norma emanada pelo Conselho Municipal
de Educação, que veda ao aluno utilizar-se de aparelho celular durante o
horário de aula, salvo se fizer parte da atividade pedagógica, ainda
desobedeceu ao comando do Professor que, por outras vezes, já o advertira
sobre o uso do aparelho celular.
Pode-se até entender que o Discente desconheça a legislação
municipal sobre os direitos e deveres dos alunos em sala de aula. O que não se
pode admitir é que um aluno desobedeça, reiteradamente, a um comando
ordinário de um professor, como no presente caso.Vivemos dias de verdadeira “Crise de Autoridade” na educação
brasileira. Crise esta causada pelo sucateamento retromencionado dos
estamentos educacionais, onde a figura do Professor é relegada a um papel
pouco expressivo na sociedade. Hoje, o professor é tido como uma pessoa que
estudou muito e não chegou a lugar nenhum, quando não se diz coisa pior.
E ao exercer este “carma”, não tem o respeito dos discentes, que
passam a questioná-lo sem nenhum embasamento lógico ou pedagógico, em
puro exercício da “arte pela arte, crítica pela crítica”, causando profundas
sequelas naqueles que deveriam ser os mais interessados em aprender.
Ressalte-se, ainda, que as provas orais pleiteadas pelo Autor em
nada acrescentaram para o deslinde dos fatos, limitando-se a se referir ao
episódio pela ótica do Autor, pois souberam pelo mesmo dos fatos, nada
acrescentando aos elementos colhidos.
Assim, diante de todos os elementos probatórios colhidos nos
presentes autos, não merece prosperar a pretensão encartada na inicial: a uma,
porque o aparelho celular foi tomado pela utilização indevida de seu dono, no
caso o Autor; a duas, porque esta má utilização foi praticada em outros
momentos, o que é corroborado pelos depoimentos prestados pelas pessoas
arroladas pelo Requerido, vale dizer, também docentes da escola; a três, porque
se houve alguma demora na restituição do aparelho, a mesma se deveu pela
mesma demora dos Responsáveis Legais pelo Autor em se apresentarem para
receberem o celular; a quatro, ainda que houvesse algum excesso temporal,
este não causou nenhum abalo moral ao Autor, pois o mesmo não utiliza seu
aparelho para trabalhar, estudar ou qualquer outra atividade, exceto para mero
deleite e lazer, o que não caracteriza, a meu sentir, nem dano moral nem
suposto abuso de direito por parte do Reclamado; e a cinco, porque julgar
procedente esta demanda é desferir uma bofetada na reserva moral e
educacional deste país, privilegiando a alienação e a contra educação, as
novelas, os “realitys shows”, a ostentação, o “bullying” intelectivo, o ócio
improdutivo, enfim, toda a massa intelectivamente improdutiva que vem
assolando os lares do país, fazendo às vezes de educadores, ensinando falsos
valores e implodindo a educação brasileira.
No país que virou as costas para a Educação e que faz apologia ao
hedonismo inconsequente, através de tantos expedientes alienantes, reverencio
o verdadeiro herói nacional, que enfrenta todas as intempéries para exercer seu
“múnus” com altivez de caráter e senso sacerdotal: o Professor.III – Dispositivo
Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTE o pedido inaugural, ao
passo em extingo o processo com resolução de mérito, na forma do art. 269, I
do Código de Processo Civil.
Sem custas, ex vi do disposto no art. 54 e 55 da lei 9.099/95.
Defiro a gratuidade judiciária ao autor para fins recursais.
Caso haja recurso interposto pelo demandado, proceda a secretaria
com a confecção da taxa a recolher, correspondente ao preparo e as custas
processuais.
Manejado o recurso no prazo legal, e após o prazo para a
apresentação das contrarrazões, com ou sem manifestação da parte adversária,
remetam-se os autos à Turma Recursal.
Caso não haja recurso, certifique-se o trânsito em julgado e
arquive-se os autos com as cautelas de praxe.
Publique-se. Registre-se. Intimem-se as partes.
Após o trânsito em julgado, arquivem-se.
ELIEZER SIQUEIRA DE SOUSA JUNIOR
Juiz(a) de Dire
sexta-feira, 31 de outubro de 2014
PAUSA PARA MEDITAÇÃO
PAUSA PARA MEDITAÇÃO
Sônia Carvalho de Almeida Maron*
Meditar, refletir, avaliar, ou
qualquer outra expressão que signifique pausa, trégua, deve ser a palavra de
ordem para os brasileiros azuis ou vermelhos. O País que tem “palmeiras onde
canta o sabiá” é único no mundo. A milagrosa miscigenação que reuniu tantas
etnias como irmãs não pode fugir à sua destinação de um povo avesso a conflitos
e lutas fratricidas. O exemplo maldito dos países que convivem com o terrorismo
da Isis e Al Quaeda deve continuar ignorado pelas crianças mulatas de olhos
verdes, brancas de cabelos crespos, brancas de cabelos louros, pretos ou
castanhos, lisos ou cacheados. O negro do luto e o vermelho do sangue não são
cores usadas em nossa aquarela. A guerrilha e o terrorismo são lembranças
dolorosas de um passado sepultado e a democracia brasileira foi gestada em
vinte anos, fortalecida com as crises e amadurecida graças ao bom senso e
equilíbrio de um povo que tem uma trajetória a cumprir de paz, fraternidade e liberdade.
O País foi induzido a transformar
uma eleição em guerra e na última batalha saiu dividido. Não se trata do resultado da eleição
especificamente: é uma crise de credibilidade. Ninguém confia em ninguém. A
incerteza que atormenta o País espalhou-se como uma epidemia, envolvendo
poderes constituídos, instituições, governo e oposição. Na opinião manifestada
por Pedro Simon, na reunião para comemoração da vitória do seu candidato ao
governo do Rio Grande do Sul, “o Brasil perdeu a disposição de acreditar.”
É compreensível que a sucessão de
escândalos, operações policiais e impunidade, uma sequência de atentados à lei,
à ética, à moral, à privacidade, ao patrimônio público e privado, à integridade
física e à vida, conduza o cidadão ao desespero ou à descrença no presente e no
futuro do País.
O que mais assusta é a naturalidade com que os
tipos penais são avaliados e os julgamentos definitivos ridicularizados.
Dizendo melhor, o que assusta é a banalização do crime. Os aplicadores da lei
são expostos e criticados por não reconhecerem que, sendo a lei igual para
todos, a leniência deve seguir o mesmo
caminho se a competência do órgão julgador foi definida por prerrogativa de
função. Exemplificando de forma singela: o ladrão de galinhas é julgado pelo juiz da cidade; o crime do
prefeito é julgado pelo tribunal do Estado; crimes de presidentes e sua corte
pelo Supremo Tribunal Federal. Assim, no código dos políticos, quanto mais
elevado o cargo, menor a pena, maior a leniência. Nesse passo, é melhor trocar
o Código Penal e a Lei de Execuções Penais pelo Auto da Compadecida.
A violência, um dos dramas atuais da
população brasileira, contribui para aumentar a angústia e a crise de
credibilidade. Não se trata de dar asas à imaginação ou fantasiar. São
processos e mais processos, CPIs para todos os gostos e esferas de poder; não
há nada surpreendente para acontecer, como não há mais ninguém em
quem confiar. Ganhamos o campeonato de escândalos nos poderes públicos nos
últimos anos, fato tão evidente como os sete gols da Alemanha na Copa do Mundo.
O
cidadão que trabalha, paga impostos, administra empresas, produz riqueza e
mantém o PIB não é o algoz do seu conterrâneo catador de lixo, gari, índio,
quilombola ou nordestino vitimado pela estiagem. Ao contrário. Trabalhando e
produzindo mantém as bolsas e assegura as casas da vida. Recomenda-se a
releitura cuidadosa de Luiz Gonzaga, em “Vozes da Seca”, cinquenta anos atrás.
Ele, o Gonzagão, amava o Nordeste.
Nisso tudo, onde fica o cidadão
brasileiro? Resta-lhe a comparação. Nixon amargou um impeachment em razão de uma “inocente” escuta; Clinton, coitado, não
sabia o que fazer para explicar a relação com a secretária. Aqui, no País do
Carnaval e do samba, nada é censurável, tudo é normal. O resto é intriga da
oposição ou calúnia veiculada pela imprensa: a imprensa azul calunia a vermelha
e a vermelha calunia a azul. E tudo termina em muito riso e alegria. Afinal, em
fevereiro tem Carnaval. Ocorre que não sou Flamengo e nem tenho uma nêga
chamada Tereza. Mas sou brasileira, sou vascaína, caminhando contra o vento e
remando contra a maré. A camisa que eu visto tem quatro cores: verde, amarelo, azul e
branco.
* Sônia Carvalho de Almeida Maron é juíza aposentada, professora de Direito da UESC e presidente da Academia de Letras de Itabuna.
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
A MISSÃO DE CADA UM DE NÓS
A MISSÃO DE CADA UM DE NÓS
Marcos Bandeira
Ouvindo prazerosamente
a boa música de João Nogueira intitulada ‘Além do Espelho’, paro e fixo-me no seu refrão: “A vida é mesmo
uma missão, a morte é ilusão, só sabe quem viveu, pois quando o espelho é bom,
ninguém jamais morreu”. Assim, me ponho a refletir na nossa condição humana de
seres inacabados e imperfeitos nessa jornada transitória aqui na terra. Afinal,
o questionamento é inevitável: qual será a nossa grande missão nesta vida? Qual a razão pela qual estamos no mundo? As respostas variam, pois somos seres
singulares e cada um constrói a sua própria história e tem a sua própria
missão.
No meu caso em
particular, tenho uma inclinação, diria até uma identificação muito grande com
os direitos das crianças, esses seres vulneráveis na condição peculiar de
desenvolvimento. Muitos deles vivem em situação de dificuldade, sem lar, sem
escola, sem pais, vítimas de violações de seus direitos pela família, pela
sociedade e pelo próprio Estado. Muitos são incompreendidos pelos adultos que
não toleram a sua nefasta presença. Numa sociedade capitalista e consumista
como a nossa, são seres invisíveis, inúteis e descartáveis. Só são notados
quando cometem um ato criminoso ou quando são trancafiados num orfanato, longe
de nossos olhos. Parece até que alguns adultos esquecem que um dia também foram
crianças.
A história de *Rodrigo
retrata a vida de uma criança que aos seis anos de idade foi castigado
cruelmente pelos seus genitores e retirado abruptamente do convívio com seus
dois irmãos. O Juiz da localidade onde morava, decretou a perda do poder
familiar dos genitores de Rodrigo e determinou a separação dos irmãos. Um dos
irmãos de Rodrigo foi adotado por uma família no sertão, enquanto Rodrigo e sua
irmã mais velha vieram para serem acolhidos no SOS Canto da Criança em Itabuna.
Um trauma terrível em sua vida.
Quando Rodrigo chegou
era franzino e diabético sendo obrigado a tomar medicamentos todos os dias para
controlar sua enfermidade. A irmã de Rodrigo, apesar de ter tido várias
oportunidades de ser acolhida por uma família através da adoção, demonstrou
possuir uma personalidade deformada e dissimulada.
O tempo passou, a
irmã mais velha completou 13 anos e foi transferida para um abrigo em Salvador,
onde fugiu e ingressou no mundo da criminalidade e das drogas. Rodrigo
permaneceu no SOS canto da Criança. Em alguns momentos de crise, chegou a
quebrar os móveis e utensílios do abrigo e a bater em outros meninos mais
novos. Essa foi a forma encontrada para protestar, para ser notado e ouvido,
para reivindicar uma família.
Todas as vezes que
me dirigia ao SOS Canto da Criança para realizar audiências concentradas e
verificar junto com o Ministério Público e a Defensoria Pública a situação de
cada criança acolhida naquela instituição, era sempre procurado por Rodrigo que
me suplicava impacientemente:
- Doutor Marcos, por
favor, eu preciso de uma família. Normalmente, eu respondia um tanto
preocupado:
- Rodrigo, o tempo está passando, mas estou
lutando por você. Tenha paciência que o seu dia vai chegar.
Felizmente, o dia de Rodrigo chegou: depois de
permanecer por mais de 2 anos no Cadastro Nacional de Adoção, um casal de
Curitiba o adotou. Foi amor à primeira vista e a vida de Rodrigo até então sem
grandes perspectivas, agora se transformou. Finalmente, aos 8 anos de idade,
foi adotado por uma família estruturada e está muito feliz.
Ontem, recebi uma
carta de Rodrigo encaminhado pelo pai que o adotou e que me emocionou bastante.
Nâo pude conter as lágrimas. Eis a íntegra da carta de Rodrigo ipsis litteris :
“ Olá Dotor Marcos
Aqui é Rodrigo
escrevo essa carta para li agradescer pela a minha nova família
Eu tou na escola e já
fiz duas provas
Jogo futebol no Coxa
e tenho novos amigo
Fique com Deus
Quando eu crescer eu
quero ser Juiz para ajudar as crianças como você”
Por
favor, não repare o vernáculo nem a pontuação, pois trata-se de uma carta
elaborada por um menino sobrevivente que viveu boa parte de sua vida dentro de
um orfanato sem ter alguém que pudesse guiar o seu caminho e muito menos
ensinar o bom português. O que me importa é o seu conteúdo, a mensagem que ele
passou para mim. Rodrigo, certamente, caso não fosse adotado por uma família,
seria mais um a engrossar a fileira da criminalidade.
O homem vive de
escolhas e oportunidades. Rodrigo teve a paciência de esperar e escolheu com o
auxílio da graça de Deus de que nos fala Santo Agostinho, o caminho do bem.
Deus criou as condições e a oportunidade surgiu na sua vida. Ele me passou a
mensagem deixando à mostra minha missão terrena: nunca desistir das crianças,
perseverar e lutar pelos seus direitos. Só assim poderemos sonhar com um amanhã
promissor.
*Nome fictício da criança.
Marcos Bandeira é Juiz de Direito Titular da
Vara da Infância e Juventude de Itabuna, professor de Direito da UESC e membro
da Academia de Letras de Itabuna.
quinta-feira, 23 de outubro de 2014
PROJETO DE MONITORAÇÃO ELETRÔNICA PARA ADOLESCENTES INFRATOR
PROJETO DE MONITORAÇÃO ELETRÔNICA PARA ADOLESCENTE INFRATOR.
A Câmara dos Deputados analisa o Projeto de Lei 7306/14, do deputado João Campos (PSDB-GO), que permite a utilização de dispositivo de monitoração eletrônica (tornozeleira, caneleira, cinto etc.) em adolescentes infratores submetidos ao regime de semiliberdade ou ao de internação com atividades externas como medida socioeducativa. Atualmente, o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90) não prevê a utilização desse tipo de equipamento.
A proposta estabelece que o jovem mantenha contato com o servidor responsável pela monitoração eletrônica e cumpra suas orientações. Pelo texto, o jovem também deverá se comprometer a não violar o equipamento. Caso isso ocorra, será advertido por escrito, a critério do juiz da infância e da juventude, depois de ouvido o Ministério Público.
O projeto indica ainda que a monitoração eletrônica poderá ser revogada quando se tornar desnecessária ou inadequada.
João Campos ressalta que a utilização do equipamento deverá ser feita de forma a não ofender a dignidade do adolescente, evitando sua exposição. De acordo com o parlamentar, a medida trará benefícios como reduzir a população carcerária, diminuir os gastos do Estado e evitar a rotina de dessocialização causada pelo encarceramento.
Tramitação
O projeto será analisado pelas comissões de Seguridade Social e Família; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. Depois, terá de ser votado pelo Plenário.
Fonte: Câmara dos Deputados Federais
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