sábado, 17 de maio de 2014

POR UMA CIDADE MAIS HUMANIZADA

POR UMA CIDADE MAIS HUMANIZADA





            A condição de cidadãos exige que sejamos autônomos, críticos e participativos em nossa comunidade. O município é o lugar onde moramos e construímos a nossa história no cotidiano do trabalho ou nas horas de lazer e entretenimento. Certamente, será o lugar onde morreremos também.
           O ser humano, como sujeito biológico e cultural, deve inscrever na sua identidade terrena, uma consciência ecológica de que nos fala Edgar Morin, de “habitar, com todos os seres mortais, a mesma esfera viva... a consciência cívica terrena... da responsabilidade e da solidariedade para com os filhos da terra” .
            A minha consciência ecológica me instiga a fazer alguns questionamentos. Qual o modelo ideal de cidade que desejo para minha família e também para as futuras gerações? Se não posso viver na cidade ideal, qual a cidade possível que seja capaz de me proporcionar bem estar e qualidade de vida? É verdade que essa cidade deve oferecer alguns itens, como segurança, educação, saúde, comércio, lazer, dentre outros, fundamentais para a boa convivência humana. Todavia, devido às limitações deste artigo, deter-me-ei a apenas dois itens para testar o “bom viver” da cidade onde moro: segurança e lazer.
            Itabuna, cidade com mais de 220 mil habitantes e pólo comercial da região sul da Bahia, possui uma das taxas de criminalidade mais alta do Estado da Bahia, tendo ocupado o topo do ranking nacional como a cidade mais violenta para adolescentes entre 12 a 18 anos, nos anos de 2009 e 2010, conforme dados oficiais da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Os delitos ocorrem invariavelmente no centro da cidade em plena luz do dia. Estamos inseguros, e essa sensação de insegurança é potencializada pelo sensacionalismo midiático que se encarrega de espalhar o clima de terror e pânico na cidade. Qual o discurso para mudar esse quadro sombrio? Nas reuniões de segurança pública, o discurso sempre é o mesmo: mais armamento, mais viaturas, mais prisões. O presídio de Itabuna está atualmente com mais de 1.200 presos, quando a unidade comporta apenas 440. É uma bomba relógio que vai explodir a qualquer momento.
           Na verdade, não tenho a receita pronta, mas posso afirmar que é preciso um novo paradigma de segurança pública no país, e para isso, é necessário vontade política para romper as resistências naturais que lutam para manter as atuais estruturas. Enquanto o novo paradigma não vem, o jeito é apostar na prevenção, implementando projetos sociais para crianças, adolescente e jovens, abrindo escolas nos bairros nos finais de semana, criando espaços para a prática do esporte e lazer, valorizando nossas praças públicas. Uma praça pública bem iluminada, com espaço para o lazer, com banheiros públicos higienizados, constitui uma janela aberta para a segurança, pois certamente atrairá aglomeração de famílias e assim afastará os meliantes. Entretanto, uma praça pública mal iluminada, sem atrativo, abandonada, passa a se transformar num foco de marginais e usuários de drogas. É o que acontece com a Praça da Catedral de Itabuna, que já há algum tempo não vem merecendo a devida atenção do poder público e hoje, é ponto de encontro de usuários de drogas, sendo cenário de vários delitos, como furtos e roubos. O mesmo acontece com a Praça do Bairro Santo Antônio, ponto de encontro de usuários de drogas. Foi assim, valorizando os logradouros e praças públicas, que o prefeito de Nova York em 1994 aplicou a teoria das janelas quebradas, reduzindo drasticamente os índices de criminalidade naquela cidade.
            Outro ponto que merece destaque é o espaço de lazer, que compreende a prática de esportes, de atividades lúdicas e culturais. O sociólogo Domenico de Massi em seu livro “Ócio Criativo” afirma que dispomos de mais de 300 mil horas livres para exercitar a nossa criatividade, seja no esporte, na ginástica, na cultura,  na meditação, na interação com as pessoas, no amor ou  no convívio com a família. Após o período da revolução industrial, onde o trabalho cansativo e de montagem ocupava o papel principal, hoje valorizamos também o tempo livre, pois o ócio criativo é o que, de fato, acaba dando sentido às nossas vidas.
            O grande problema é que olhando para a minha cidade, vejo o rio Cachoeira agonizando, morrendo aos poucos, sem que haja uma intervenção eficiente por parte do Poder Público, muito embora existam projetos, como o “Centro das águas” capitaneado pela professora Maria Luzia, que oferece estratégias para salvar o inditoso rio, cantado em verso e prosa por Ciro de Mattos e Lurdes Bertol.
           O itabunense normalmente gosta de andar, correr e pedalar na avenida Beira Rio, entretanto, o piso é acidentado e estreito, a iluminação é sofrível e o mau cheiro que exala do rio é insuportável. É incrível que em uma cidade como Itabuna não exista um projeto para melhorar a qualidade de vida das pessoas. O que se observa são iniciativas particulares, que acabam dando um novo colorido à cidade, seja com o futvólei e outras atividades físicas praticadas na Praça Aziz Maron . Nos finais de semana alguns esportistas são obrigados a interditar algumas vias da Avenida Beira Rio para praticar atividades físicas nos finais de semana e feriados sem o risco de serem atropelados por algum veículo. Indaga-se: por que o Poder Público não transforma a Praça da Aziz Maron numa praça esportiva, com a construção de uma arena moderna com vestiário e instrumentos de ginástica para a prática de esportes diversos? Por que não realizar um projeto em torno da avenida Beira Rio, alargando o passeio, melhorando a iluminação pública, construindo quiosques no seu entorno, oferecendo melhor espaço às pessoas que praticam atividades físicas e àquelas que transitam pelo local? Por que não criar na cidade, pelo menos nos finais de semana e feriados, ciclovias móveis com cones, a exemplo do que já ocorre em grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, para as pessoas pedalarem?Por que não revitalizar as praças públicas? Por que não utilizar o conhecimento científico das universidades e do projeto “Centro das Águas”  para salvar o Rio Cachoeira? Precisamos não só de respostas ou justificativas, mas de ações que transformem nossa cidade num lugar bom para se viver.
             Enfim, como cidadão itabunense, sou obrigado a exercer meu senso crítico no sentido de que a reflexão possa contribuir para que a cidade onde moro  possa oferecer a todos uma melhor qualidade de vida, pelo menos, no que tange à segurança, lazer e entretenimento, transformando-se numa cidade mais humanizada.


Marcos Bandeira é Juiz da Vara da Infância e Juventude de Itabuna, Professor de Direito da UESC , ex-presidente da Academia de Letras de Itabuna e mestrando em Segurança Pública, Justiça e Cidadania pela UFBA.

2 comentários:

  1. (Andréa Carvalho)Concordo plenamente: "Na verdade, não tenho a receita pronta, mas posso afirmar que é preciso um novo paradigma de segurança pública no país, e para isso, é necessário vontade política para romper as resistências naturais que lutam para manter as atuais estruturas."

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  2. Aqui estão atitudes simples, que os governantes não conseguem oferecer o nossa população... lamentável.

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