FUTEBOL BRASILEIRO: a necessidade da construção de um novo
paradigma.
Sem dúvida, o futebol
brasileiro, cantado em verso e prosa nos quatros cantos do mundo está em crise.
A vergonhosa derrota imposta pela seleção alemã por 7 x 1, numa Copa do Mundo
disputada em casa, trouxe à mostra o que já suspeitávamos: não mais praticamos
o melhor futebol mundial. Perdemos a essência da arte e da competição do nosso
futebol. Sua estrutura está obsoleta: apresentamos uma seleção de futebol de
baixo nível técnico e tático para disputar uma Copa do Mundo de excelente nível
técnico. A escola alemã mostrou para todos como deve se jogar coletiva e
estrategicamente e não calha o argumento simplista de que houve um “apagão”
diante da vitória consolidada em pouco menos de sete minutos. O Brasil não teve
poder de reação e o sistema tático ficou inalterado.
Não basta os
jogadores cantarem com emoção o Hino Nacional à capela, chorar, entregar-se,
receber apoio psicológico, etc. sem realizar o essencial: jogar futebol nas
quatro linhas, dentro de um esquema tático consistente e que apresente
variações para momentos de dificuldades, e isso, infelizmente, não ocorreu. Na
verdade, a apatia se repetiu contra a desmotivada Holanda, quando novamente
massacrados, perdemos por 3 x 0 . O pior é que a prepotência da comissão
técnica não admite que tenha cometido erros.
Quem acompanha
futebol há algum tempo e tem algum discernimento, observa que o futebol
brasileiro empobreceu e que há muita coisa por fazer, no sentido de recolocar o
Brasil no lugar que ele merece pelas conquistas alcançadas com muita luta e
brilhantismo ao longo do tempo. O campeonato brasileiro é um exemplo de venda
de ilusões aos brasileiros quando assistimos aos jogos de nossos clubes com
jogadores “refugos”, enquanto os grandes talentos são transferidos para a
Europa e outros continentes. Temos também como exemplo garotos brasileiros que
estão se naturalizando em outros países para jogarem em Copa do Mundo.
Quando o Santos
perdeu de 8 x o para o Barcelona foi um
sintoma de que algo errado estava acontecendo no futebol brasileiro. Não se
admite que uma equipe da 1ª. divisão do campeonato brasileiro haja se submetido
a tal massacre. O problema é que logo depois, a equipe do Santos começou a
disputar as primeiras posições na classificação do campeonato brasileiro,
ganhando de outros grandes clubes mas mostrando toda a fragilidade e o baixo
nível técnico dos seus jogadores. Assim, fica nítido que o nível do futebol
nacional caiu e está em crise. O exemplo atual está na disputa da Libertadores,
quando todos os clubes brasileiros que participaram do certame foram
eliminados. É verdade, chegamos ao fim do poço!
Urge agora que
calcemos a sandália da humildade e nos recolhamos à nossa condição atual para
que possamos refletir e tomar decisões adequadas visando uma profunda e ampla
transformação, fortalecendo o futebol de base, valorizando as seleções sub-17,
20 e 21, criando um calendário racional que não desgaste tanto o atleta
profissional, enfim, mudando completamente as estruturas arcaicas que sustentam
o nosso futebol atualmente. É preciso que se criem mecanismos para evitar que
um jovem de 16,17 ou 20 anos saia do país para jogar no futebol europeu sem
passar pelos principais clubes brasileiros. Precisamos democratizar o sistema
de escolha de dirigente da CBF e criar mecanismos de controle por parte do
Estado, fiscalizando, por exemplo, as contas desta instituição. A Confederação
Brasileira de Futebol não mais pode ser dirigida da forma como vem sendo, como
se fosse uma dinastia, que passa o trono para o genro, depois para o amigo, e
que serve de cabide de emprego para “apadrinhados” e mina de ouro para os
poderosos de plantão, deixando todo o rastro de corrupção debaixo do tapete. O
futebol brasileiro deve ser tratado com seriedade e transparência, pois as
consequências são sentidas por todo o nosso povo que é verdadeiramente
apaixonado por futebol. Não nos esqueçamos do rosto daquela criança brasileira
chorando copiosamente pela derrota fragorosa sofrida pelo Brasil diante dos
alemães e do seu sonho acalentado que estava indo embora.
Segundo os chineses,
crise é uma palavra que traduz “perigo” e “ oportunidade”. Estamos passando por uma situação de perigo,
de risco, que pode ainda perdurar por algum tempo. O momento exige reflexão
para grandes transformações. A questão não é tão simplista como se tudo pudesse
se resolver com a mudança da comissão técnica. É bem verdade que Felipão já
está obsoleto, mas a problemática é muito mais complexa: precisamos construir
um novo paradigma, que não sei precisamente qual será e ninguém sabe, mas que
certamente nos conduzirá a um melhor caminho, ao reencontro com a nossa vocação
de melhor futebol do mundo e aproveitarmos a oportunidade da crise que estamos
passando para, de forma criativa, reinventarmos a estrutura do futebol
brasileiro, criando condições para voltarmos a ter orgulho do nosso futebol e
de nossa seleção brasileira e dizermos com todas as letras para aquela criança que
o sonho dela não acabou, apenas foi adiado por alguns anos.
Marcos Bandeira
*Juiz titular da Vara da Infância e Juventude de Itabuna,
professor de Direito da UESC, membro da academia de letras de Itabuna e
mestrando em Segurança Pública, Justiça e Cidadania da UFBA.
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