Foto: Hudson Pontes / Agência O Globo
RIO — Praças em todo o Brasil foram decoradas com
as cores roxa e laranja na madrugada desta quarta-feira. A ação faz
parte da campanha "Amanhecer contra a redução", criada por jovens
estudantes cariocas com a intenção de mobilizar a população contra a PEC
171, que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos, em tramitação na
Câmara dos Deputados. O projeto teve cerca de 2 mil pessoas inscritas em
400 praças ao redor do país. O objetivo foi intervir em espaços
públicos na madrugada do dia 28 de abril para o dia 29, com cartazes,
faixas, adesivos, lambe-lambes e pipas, o símbolo da campanha.
Segundo Daniela Orofino, de 22 anos, estudante de Ciências Sociais da
UFRJ e integrante do movimento, a pipa é um símbolo da juventude e
representa liberdade; o roxo e o laranja dialogam com os jovens. A
estudante conta que, inicialmente, o foco da campanha era o Rio de
Janeiro, mas ao abrir inscrições de praças via internet, grupos de todos
os estados do país se mostraram interessados. No ar há pouco mais de
uma semana, o site teve mais de 300 praças inscritas em seis dias. No
Rio, mais de 150 praças estão cadastradas em municípios como São
Gonçalo, Niterói, Petrópolis, Nova Iguaçu, além da capital.
Daniela explica que não há uma liderança na campanha e o processo tem
caráter colaborativo. Assim que a Comissão de Constituição e Justiça
aprovou o texto da proposta, estudantes de diferentes cursos e escolas
se reuniram para pensar em maneiras de mobilizar a população e
encontraram inspiração na campanha uruguaia "No a la baja" (Não à
redução).
— Na primeira reunião, discutimos sobre a ação da campanha uruguaia
"Amanhecer amarelo", que cobriu praças ao redor do país com materiais
contra a redução da maioridade penal. Decidimos trazer isso para cá —
contou a jovem.
Nessa mesma reunião, segundo a jovem, foram decididos os pontos que a
campanha defende: #ReduçãoNãoÉSolução, #CadeiaÉDesperdício e
#VoaJuventude. Os argumentos sustentam que nenhum país que reduziu a
maioridade penal conseguiu diminuir a violência; que cadeia não melhora a
conduta de presos; e que é preciso investir na juventude com políticas
públicas.
Daniela destaca que, desde a primeira reunião, a maior força do
movimento vem de alunos secundaristas, menores de 18 anos. Alunos de
escolas particulares e públicas, como Pedro II, Ceat, São Vicente,
Escola Parque, CAPs UERJ e UFRJ têm debatido sobre a proposta de redução
da maioridade penal. Vicente Braga Faria, de 17 anos, integrante do
grêmio estudantil da escola Éden, no Largo do Machado, afirma que cerca
de 50 alunos do colégio estão envolvidos.
— Muita gente da escola se mobilizou mesmo não sendo ligada ao tema.
Fizemos debates lá e uma oficina para criar o material para a campanha —
contou o aluno, que atuou no Largo do Machado, na praça São Salvador e
no Parque Eduardo Guinle.
No site da campanha estão disponíveis logotipos, frases e desenhos
para impressão, além de ensinar passo a passo como produzir o material.
Também há incentivo para a cobertura colaborativa, com sugestões de como
e o quê filmar e divulgar. O sucesso de adesão à campanha estimulam a
continuidade do projeto.
— Agora, a ideia é, em novas reuniões, pensar em outras ideias que
daqui para frente vão continuar com a campanha — sustentou Daniela.
(*Sob supervisão de Madalena Romeo)
No Largo do Machado, um grupo com cerca de 40 jovens, a maioria menor
de idade, chegou logo após a meia noite, para decorar o espaço público.
Uma grande faixa com o nome da campanha foi estendida em um ponto
estratégico da praça. Pipas de várias cores, carregando frases como "voa
juventude” e "a cadeia é desperdício", ajudavam a compor o cenário. A
estátua de Nossa Senhora da Glória, localizada bem no meio, recebeu
fitas nas cores do movimento, além de pipas e cartazes. O grupo também
mandou fazer adesivos para serem distribuídos pela manhã.
— Acredito que os jovens não devem ser encarcerados, mas, sim,
educados. Eles serão colocados junto com chefes do tráfico e outros
criminosos. O que será desses jovens nesse ambiente? Nossos sistemas
prisionais não têm estrutura nenhuma. Quantas pessoas conseguem sair
recuperadas de lá? — questionou o integrante do movimento Matheus
Gondar, de 18 anos.
FONTE: O GLOBO
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