Por quem os sinos dobram...
“A morte de qualquer homem me diminui, porque
faço parte integrante da
humanidade; portanto, nunca pergunto por quem dobram os sinos: dobram por mim”.
(John Donne, 1572-1631)
Talvez o pensamento do poeta
inglês John Donne, influencie ou defina o significado do toque dos sinos. Talvez o assunto seja da competência de
teólogos ou músicos. Em verdade, não sei. O fato é que temos por hábito
entender que os sinos “tocam” quando festejam e devem soar alegremente;
“dobram” quando o som deve anunciar uma desgraça ou prestar uma homenagem fúnebre.
O doloroso fato é que os sinos dobram em Pernambuco e no Brasil por um dos
poucos brasileiros que tinha o perfil de líder e um longo caminho a percorrer
na vida pública, iluminando, com sua juventude, um cenário sombrio, recorrente
e monótono. A esperança anunciada no sorriso de Eduardo Campos, a mensagem de otimismo e renovação que trazia
estampada no rosto jovem e de sorriso verdadeiro, seria realidade um dia se ele
cumprisse sua trajetória. Qualquer dia, próximo ou distante. O importante é que
o jovem político transmitia a certeza de
que o país viveria um novo tempo, uma nova escola política alicerçada em princípios voltados para o bem
comum e culto dos valores consagrados pelo estado democrático de direito.
O
rapaz de quarenta e nove anos não era somente “ficha limpa”: trazia no
currículo a herança política do avô, respeitado até mesmo pelos adversários,
além da experiência administrativa de dois mandatos no comando do Poder
Executivo do seu Estado, saindo aclamado pelo povo pernambucano que compreendeu
sua opção de voar mais alto, no desacreditado firmamento da política
brasileira.
A
vida e a morte assemelham-se às representações teatrais: fascinam pelo enredo
inteligente ou inusitado e talento dos atores. A diferença maior é que a
direção do espetáculo às vezes foge ao controle do diretor por causas
desconhecidas e circunstâncias que nem o tempo consegue desvendar. Tanto é
verdadeira a assertiva que os EUA e o Brasil servem de exemplo. Os
norte-americanos, fiéis à cultura divulgada nos filmes de cowboys cavalgando nas cidades sem lei, não perdoam os políticos
que “incomodam”. A prova é que afastaram do cenário os presidentes Abraham
Lincoln, James Garfield, William McKinley, John F. Kennedy. Este último, mais
recente, abalou o mundo. Sem contar os atentados contra Andrew Jackson, Harry
Truman, Gerald Ford e Ronald Reagan que, apesar de ex-ator de Hollywood, não
tinha a imagem de galã e o pedigree de
Kennedy, nem era casado com Jaqueline, à época a mulher mais elegante do mundo.
No país do Tio Sam, o FBI aponta suspeitos e autores rapidamente, é o que
dizem. Aparentemente os executores são
punidos e os mandantes ficam para a pesquisa dos historiadores; também dizem
que é um país civilizado, sendo fácil atribuir a responsabilidade aos
mascarados da KU KLUS KLAN, um grupo
arruaceiro da elite branca e burguesa, hoje desmoralizada com a eleição e
reeleição de Barack Obama.
No
Brasil, a situação é outra: ninguém mata ninguém. Ainda assim, os políticos que
fazem a diferença não permanecem no
palco. O destino cuida de promover acidentes fatais, sem esquecer o suicídio
atribuído a Getúlio Vargas, no mês de agosto de 1954. Se a memória não falha,
Humberto de Alencar Castelo Branco que tinha simpatia pela recondução do país à normalidade
democrática, teve o azar de colidir com um jato da FAB no céu do Ceará; Ulisses
Guimarães repousa no oceano de Angra dos Reis e tudo leva a crer que ficou
escondido até o fim das buscas cuidadosas, realizadas por ocasião da queda do
helicóptero que o conduzia: todas as vítimas foram encontradas, menos ele; Juscelino Kubitschek
não voltou de uma viagem terrestre de São Paulo ao Rio de Janeiro; e o
ex-governador de Pernambuco e ex-ministro despediu-se da campanha presidencial
em Santos, no mês de agosto, em um quintal qualquer, graças à explosão do
jatinho que o transportava. A Bahia, mantendo a tradição macabra, registra os
acidentes aéreos com Lauro Farani de Freitas (1952) e Cleriston Andrade (1982),
ambos em campanha para o governo do Estado.
Conforta
saber que nosso “mata-mata”permanece restrito às forças pacificadoras das
favelas cariocas, embates do PCC nos presídios, eventuais chacinas e às nossas
facções grapiúnas Raio A e Raio B. Certamente porque DEUS é brasileiro e o
Brasil é reconhecidamente mulato, não temos KU KLUS KLAN com figurantes
mascarados. Os “movimentos” são inofensivos e se alimentam de invasões a órgãos
públicos e arruaças; mascarados temos apenas os atores do novo elenco
denominado BLACK BLOCS, afastados do
palco pela má qualidade das apresentações. Resta apenas recomendar aos
políticos que aguardem um “céu de brigadeiro” para voar e confiem no CRISTO
REDENTOR, reconhecido como uma das maravilhas deste mundo e do outro. Somente
ELE pode evitar que os sinos dobrem por nós.
* Sônia Carvalho de Almeida Maron
Presidente da Academia de Letras de Itabuna-ALITA
Juíza aposentada do TJ-BA
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