segunda-feira, 18 de agosto de 2014

POR QUEM OS SINOS DOBRAM...

                                    Por quem os sinos dobram...



 “A morte de qualquer homem me diminui, porque faço        parte integrante da humanidade; portanto, nunca pergunto por quem dobram os sinos: dobram por mim”. (John Donne, 1572-1631)

               
            Talvez o pensamento do poeta inglês John Donne, influencie ou defina o significado do toque dos sinos. Talvez o assunto seja da competência de teólogos ou músicos. Em verdade, não sei. O fato é que temos por hábito entender que os sinos “tocam” quando festejam e devem soar alegremente; “dobram” quando o som deve anunciar uma desgraça ou prestar uma homenagem fúnebre. O doloroso fato é que os sinos dobram em Pernambuco e no Brasil por um dos poucos brasileiros que tinha o perfil de líder e um longo caminho a percorrer na vida pública, iluminando, com sua juventude, um cenário sombrio, recorrente e monótono. A esperança anunciada no sorriso de Eduardo Campos, a mensagem de otimismo e renovação que trazia estampada no rosto jovem e de sorriso verdadeiro, seria realidade um dia se ele cumprisse sua trajetória. Qualquer dia, próximo ou distante. O importante é que o  jovem político transmitia a certeza de que o país viveria um novo tempo, uma nova escola  política  alicerçada em princípios voltados para o bem comum e culto dos valores consagrados pelo estado democrático de direito.
            O rapaz de quarenta e nove anos não era somente “ficha limpa”: trazia no currículo a herança política do avô, respeitado até mesmo pelos adversários, além da experiência administrativa de dois mandatos no comando do Poder Executivo do seu Estado, saindo aclamado pelo povo pernambucano que compreendeu sua opção de voar mais alto, no desacreditado firmamento da política brasileira.
            A vida e a morte assemelham-se às representações teatrais: fascinam pelo enredo inteligente ou inusitado e talento dos atores. A diferença maior é que a direção do espetáculo às vezes foge ao controle do diretor por causas desconhecidas e circunstâncias que nem o tempo consegue desvendar. Tanto é verdadeira a assertiva que os EUA e o Brasil servem de exemplo. Os norte-americanos, fiéis à cultura divulgada nos filmes de cowboys cavalgando nas cidades sem lei, não perdoam os políticos que “incomodam”. A prova é que afastaram do cenário os presidentes Abraham Lincoln, James Garfield, William McKinley, John F. Kennedy. Este último, mais recente, abalou o mundo. Sem contar os atentados contra Andrew Jackson, Harry Truman, Gerald Ford e Ronald Reagan que, apesar de ex-ator de Hollywood, não tinha a imagem de galã e o pedigree de Kennedy, nem era casado com Jaqueline, à época a mulher mais elegante do mundo. No país do Tio Sam, o FBI aponta suspeitos e autores rapidamente, é o que dizem.  Aparentemente os executores são punidos e os mandantes ficam para a pesquisa dos historiadores; também dizem que é um país civilizado, sendo fácil atribuir a responsabilidade aos mascarados da KU KLUS KLAN, um grupo arruaceiro da elite branca e burguesa, hoje desmoralizada com a eleição e reeleição de Barack Obama.
            No Brasil, a situação é outra: ninguém mata ninguém. Ainda assim, os políticos que fazem a diferença não permanecem  no palco. O destino cuida de promover acidentes fatais, sem esquecer o suicídio atribuído a Getúlio Vargas, no mês de agosto de 1954. Se a memória não falha, Humberto de Alencar Castelo Branco que tinha simpatia  pela recondução do país à normalidade democrática, teve o azar de colidir com um jato da FAB no céu do Ceará; Ulisses Guimarães repousa no oceano de Angra dos Reis e tudo leva a crer que ficou escondido até o fim das buscas cuidadosas, realizadas por ocasião da queda do helicóptero que o conduzia: todas as vítimas foram  encontradas, menos ele; Juscelino Kubitschek não voltou de uma viagem terrestre de São Paulo ao Rio de Janeiro; e o ex-governador de Pernambuco e ex-ministro despediu-se da campanha presidencial em Santos, no mês de agosto, em um quintal qualquer, graças à explosão do jatinho que o transportava. A Bahia, mantendo a tradição macabra, registra os acidentes aéreos com Lauro Farani de Freitas (1952) e Cleriston Andrade (1982), ambos em campanha para o governo do Estado.
            Conforta saber que nosso “mata-mata”permanece restrito às forças pacificadoras das favelas cariocas, embates do PCC nos presídios, eventuais chacinas e às nossas facções grapiúnas Raio A e Raio B. Certamente porque DEUS é brasileiro e o Brasil é reconhecidamente mulato, não temos KU KLUS KLAN com figurantes mascarados. Os “movimentos” são inofensivos e se alimentam de invasões a órgãos públicos e arruaças; mascarados temos apenas os atores do novo elenco denominado BLACK BLOCS, afastados do palco pela má qualidade das apresentações. Resta apenas recomendar aos políticos que aguardem um “céu de brigadeiro” para voar e confiem no CRISTO REDENTOR, reconhecido como uma das maravilhas deste mundo e do outro. Somente ELE pode evitar que os sinos dobrem por nós.

                                                 * Sônia Carvalho de Almeida Maron
                                                   Presidente da Academia de Letras de Itabuna-ALITA
                                                  Juíza aposentada do TJ-BA

                                            

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